Há mais de 10 anos, a cantora e apresentadora MC Trans fez uma promessa de não comemorar o Carnaval. Em 2024, portanto, após cumprir o que foi prometido à espiritualidade, decidiu seguir seu coração. Neste ano, MC Trans fará seu retorno ao Carnaval, sendo destaque no último carro alegórico da escola de samba paulista Estrela do Terceiro Milênio. A agremiação, que integra o Grupo de Acesso 1 da Liga Independente das Escolas de Samba de São Paulo, será a penúltima a desfilar no dia 11 de fevereiro.
“O carnavalesco Murilo Lobo resolveu lacrar. Eu vou vir no encerramento do desfile em um carro alegórico que fala sobre a minha religião. E traz, aliás, a criação do mundo“, explicou MC Trans com exclusividade à coluna Gabriel Sorrentino – EM OFF. Em seguida, a cantora umbandista, que frequentemente produz conteúdo nas redes sociais homenageando sua religião, continuou: “Eu vou vir de um jeito representando uma entidade [de Umbanda] que, sinceramente, vai parar a internet“.
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Em entrevista à coluna, MC Trans revelou que apenas irá voltar a comemorar o Carnaval por ter sido liberada. “Após sofrer um acidente em Ubá, Minas, e renascer de novo, conversei com uma entidade da minha religião que disse que era pra curtir tudo o que pudesse curtir nessa vida. Disse que era pra eu comemorar o Carnaval. E aí, saí desse terreiro renovada e decidida“, explucou a famosa.
Em seguida, MC Trans refletiu: “Essa promessa, eu tinha feito e entregue o Carnaval porque era uma das coisas que mais gostava na vida. Porque não tem graça você fazer promessa e não entregar algo tão importante. Eu obtive resposta do que eu queria. Não foi uma promessa feita da boca pra fora. Foi bastante difícil cumprir“.
Segundo MC Trans, é no Carnaval a época mais convites de trabalho surgem. Portanto, ao longo de 10 anos, precisou recusar boas propostas devido à promessa. “Era a época que mais queriam me contratar pra shows, principalmente quando estourei a música ‘lacração’. É uma época que sempre queriam me contratar pra blocos e eu nunca podia aceitar. Era um pouco torturante porque a gente vive no Brasil e o aqui respiramos o Carnaval. Eu tinha que ficar trancada em casa, tentando não ligar a tv, não viver o Carnaval. Foram anos muito difíceis, mas eu consegui“, desabafou.
A agremiação escolhida por MC Trans para retornar ao Carnaval não foi selecionada à toa. Para a famosa, que não queria usar a festa para impulsionar sua carreira, a escola de samba do seu comeback deveria cumprir alguns requisitos. “Eu sou militante. No primeiro ensaio que eu fui tinha uma mulher trans como destaque no carro. Eu fiquei chocada. Comecei a ver pessoas trans e LGBTs ocupando vários espaços na escola. A gente sabe que o carnaval e totalmente LGBT, as escolas são compostas por muitos LGBTs. Porém, existe um tratamento por trás dos panos que não é muito legal“, acusou MC Trans.
Depois, a artista continuou a embasar seu argumento: “Eu já passei por algumas escolas no Rio e sempre tive essa percepção. ‘Vamos ter essa bicha ali porque bicha é boa fazendo fantasia, vamos ter bicha na comissão de frente porque as bichas são boas dançando’. Mas vamos dar oportunidade para as bichas de coração mesmo, de verdade? E nessa escola eu vi que as bichas são aclamadas, tratadas sem nenhuma distinção, não são tratadas apenas pra entregar um carnaval. Elas fazem parte do corpo da escola, sem distinção de orientação sexual ou de gênero. Eu me senti muito acolhida por ser uma muher trans ali“.
Para MC Trans, o Carnaval significa cultura do Brasil. Segundo ela, a maior festa do planeta representa alegria de ser brasileira. “O carnaval é travesti. Não existe nada mais travesti que o Brasil e o carnaval. Ser travesti é ser Carnaval. É ser brasileira. Ser resistência, é ser alegria. É se reinventar. E mesmo na quarta-feira de cinza, dos preconceitos e transfobias que vivemos, sempre vem a alegria e a beleza de recomeçar“, declamou MC Trans.
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