Com muitos ases na manga, Chris Martin e sua trupe surpreenderam uma enorme legião de fãs durante a passagem do Coldplay pelo Brasil. Durante sua estadia no país, o astro britânico foi a um boteco em SP, se encontrou com Lula, com o cri-crítico Régis Tadeu e chegou até a aparecer de surpresa nos ensaios da Bateria de Direito da USP. A turma de músicos estudantes aliás, chegou a dividir o palco com os astros na turnê do grupo britânico pelo Brasil. Mas, uma outra turma também fascinou o público de 11 shows do Coldplay no Brasil: os bonecos que fizeram parte do espetáculo.
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A coluna bateu um papo com Leo Delvage, bonequeiro que fez parte duma equipe de brasileiros convidados para interpretar personagens da banda de bonecos The Weirdos. “Formamos uma equipe de 6 brasileiros convidados para interpretar os personagens Donk (baterista), The Wizard (tecladista) e Sparkman (guitarrista) da banda The Weirdos“, afirma Leo explicando que “são todos personagens criados pelo Coldplay, como se fossem uma banda vinda de outro mundo”. A equipe completa conta com os artistas Leo Delvage, Marcus Vinícius Máximo (bateirista Donk), Kelly Guidotti (Sparkman), Evelin Cristina e Vanessa Silva (The Wizard), Rodrigo Barcena Mendes (Wrangler), e também traz a vocalista Angel Moon que em diversos shows foi uma personagem manipulada pela norte-americana Nicolette Santino.
Para quem não pôde assistir aos shows, Leo e a trupe de manipuladores encantaram o público durante a parte final do show. “Nós participávamos da última música do show chamada “Biutyful” que inclusive tem um clipe com os personagens da banda The Weirdos e que na época do lançamento da música se apresentaram no Tonight Show do Jimmy Fallon”, explica Leo.
CONFIRA O BATE-PAPO ABAIXO:
1-Qual foi a sensação de se apresentar pra uma plateia tão grande num estádio?
Leo: “Estar de frente pra 72 mil pessoas, ainda mais com todas elas usando as pulseiras que brilham, foi uma experiência única. No primeiro dia a boca até secou de nervoso quando me vi ali no palco olhando pra uma multidão de pessoas cantando. O mais legal é que subíamos no palco uma música antes que era “Fix You”, então durante essa música ficávamos abaixados com os bonecos aguardando o nosso momento, então dava pra curtir um grande show do melhor lugar possível, ao lado do Chris Martin. E ainda bem que foram 11 shows, se tivesse sido apenas 1 eu iria lembrar de pouca coisa por conta da emoção”.
“Era legal que cada noite rolava uma interação diferente com a banda. Tinha dia que o Chris Martin tocava guitarra na frente da bateria do boneco, como se eles estivessem curtindo um som juntos. Em outros dias, os demais integrantes do Coldplay chegaram a dar um toque de mão com os personagens na despedida. Essa interação era incrível e nos fazia sentir mais ainda como parte do show”.
2-Quais as principais diferenças de se trabalhar em estúdio fechado para um espaço aberto com plateia?
Leo: “No estúdio nós temos o controle total do que está acontecendo. Temos o roteiro, o monitor de retorno que mostra o que está sendo gravado. Isso é muito importante para que os manipuladores saibam pra onde o boneco está olhando e como ele está interagindo. No palco, ainda mais em um show grande como esse, a interação é mais livre. Ali a gente tinha apenas a obrigação de se manter no ritmo da música. Os demais movimentos como viradas de cabeça, sorrisos e acenos eram livres e muitas vezes dava pra brincar com o público que estava mais na frente e que interagia conosco”.
3-Quando você percebeu que queria trabalhar como bonequeiro?
Leo: “Tenho paixão pelos bonecos desde as minhas primeiras memórias da infância assistindo Rá-Tim-Bum, TV Colosso e Castelo Rá-Tim-Bum. Como um brasileiro nascido no início dos anos 90, fui muito impactado pelos bonecos na TV que na época estavam presentes em diversos canais. Quando fiquei um pouco maior comecei a pedir bonecos de presente de aniversário ou no Natal e fui criando o meu próprio elenco de personagens. Com eles criava peças em casa e fazia meu pai e minha mãe de plateia. Foi brincando que ganhei essa habilidade que pra muitos é como assobiar e chupar cana. Foi só quando me formei em Rádio e TV que levei essa paixão para o âmbito profissional. Resolvi juntar essas duas paixões e deu muito certo, tudo sempre guiado pelos aprendizados de Jim Henson, mais conhecido como o sapo dos Muppets e que é o grande inventor da arte da manipulação de bonecos pra TV”.
4-Você também confecciona bonecos reproduzindo os traços de pessoas. Funciona como uma caricatura? Qual o principal desafio em ser fiel diante da pessoa retratada? Como foi o trabalho com Hey Reynaldo e Patrick Maia?
Leo: “Em 2012 comecei a confeccionar meus próprios bonecos quando fiz o meu TCC da faculdade de Rádio e TV e que foi um programa nos moldes do Cocoricó. Conforme fui ganhando mais habilidades eu aceitei o desafio de fazer o primeiro boneco caricatura que foi o do comediante Patrick Maia que me desafiou a criar o Patrick Meia, uma versão dele em forma de meia. Aceitei e ficou muito legal!”
“Em seguida, o Reinaldo Montalvão me pediu um puppet da Natty, a personagem dele. Foi desafiador, mas aprendi muito e o resultado foi incrível, com direito a peitos! O último que fiz foi o do apresentador Marcos Mion, mas esse ainda é mantido em segredo para futuros projetos”.
“Um boneco caricatura é um dos maiores desafios porque tem a obrigação de ser fiel a uma pessoa. Diferente de quando vou fazer a criação do zero de um personagem. Gosto de fazer bonecos de pessoas que tenham características fortes e marcantes, como um nariz grande, barba, óculos, um cabelo diferente, que foi o caso de todos os que fiz até agora”.
5-Como é seu trabalho nos projetos Ticolicos e Vila Sésamo? Você mantém outros projetos?
Leo: “O projeto Ticolicos é o maior orgulho que tenho! Foi o meu primeiro trabalho profissional como bonequeiro, com personagens criados e confeccionados por mim. No YouTube o canal já tem quase 130 mil inscritos e recentemente estreou no canal infantil ZooMoo Kids. Graças a todo o aprendizado que tive no Ticolicos, entrei para a Vila Sésamo em 2016 como roteirista e no ano passado fui selecionado para interpretar o icônico Beto, amigo do Ênio. Foi a primeira vez que os bonecos vieram ao Brasil. Desde os anos 70, os quadros do Ênio e do Beto só foram dublados aqui”.
“Além do trabalho com os bonecos também sou locutor e voice actor. Atualmente sou a voz do canal ZooMoo Kids e faço dublagens também. Ainda trabalho como roteirista e já tenho uma parceria de anos e de muita confiança com o apresentador Marcos Mion, com quem trabalho desde os tempos de Legendários na RecordTV. Ele inclusive foi no show do Coldplay e postou sobre me ver no palco manipulando. Tenho muito orgulho de trabalhar com ele!“.