A primeira novela da atriz Luciana Paes foi Fina Estampa (2011), um grande sucesso da Globo escrita por Aguinaldo Silva. Em seu papel como Fabrícia, uma das “maridas” da empresa Marido de Aluguel, montada por Griselda (Lilia Cabral) após ganhar na loteria, a personagem tinha um segredo: ela era uma mulher transexual. Embora a novela tenha aberto portas para a carreira da atriz na emissora, Luciana afirmou que não aceitaria interpretar a personagem novamente.
Devido à pandemia da Covid-19, a produção de novelas na Globo foi interrompida, levando a emissora a escolher outras produções para serem exibidas no horário nobre, incluindo a reprise de Fina Estampa no lugar de Amor de Mãe (2019). Com isso, Fabrícia, personagem vivida por Luciana Paes, voltou à tela. Durante uma entrevista ao jornal Extra, a atriz afirmou que não aceitaria interpretar novamente uma personagem como a que viveu na novela, pois acredita que ao aceitar o papel de uma mulher trans, está tomando o espaço que deveria ser ocupado por uma pessoa trans.
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“Essa argumentação é muito válida. Acho que a TV se modificou muito. Por essa razão, eu não aceitaria esse papel hoje. Ao mesmo tempo, a própria TV não chamaria um ator/atriz não trans para fazer o papel de uma pessoa trans. Os tempos mudaram”, declarou a atriz
Além disso, a forma como a personagem é retratada em Fina Estampa é questionável. Na trama, ninguém sabe que Fabrícia é uma mulher trans até que Quinzé (Malvino Salvador) a flagra no banho e descobre que ela possui genitália masculina. A cena é toda em tom de chacota, algo que seria considerado inaceitável nos dias de hoje. “Entrei no vestiário achando que não tinha ninguém lá, e, quando vejo, está a Fabrícia, ou melhor, o Fabrício!”, gritava Quinzé para Griselda e as outras “maridas”. “A Fabrícia é homem!”.
Na época em que Fina Estampa foi produzida, em 2011, a transexualidade ainda era um tema pouco abordado e pouco conhecido pelo grande público, sendo raramente mostrado em novelas. Somente em 2017, em A Força do Querer, é que a temática da transexualidade foi amplamente explorada por meio da personagem Ivana (Carol Duarte), que durante a trama descobre que nasceu em um corpo errado e, na verdade, é Ivan.
*com colaboração de Savanna Machado