A década de 90 foi marcada pela grande disputa por audiência na televisão – em especial, o grande embate entre Fausto Silva (da Globo) e Gugu Liberato (do SBT). Entretanto, a falta de limites para chamar a atenção do público levou o conteúdo a ser questionado e problematizado mesmo na época. “Mundo cão na TV: até onde vai a apelação?” foi a manchete que estampou a edição de 18 de setemhro de 1996 da Veja, que criticava a batalha pelo IBOPE, semelhante a um ‘vale-tudo’.
Com ‘tudo liberado’, Fausto Silva e Gugu Liberato chegaram a explorar a imagem e condição física de pessoas de maneira humilhante, com o objetivo de tirar risada dos telespectadores e predê-los em frente a TV. Mas a situação que realmente chocou, aconteceu após a disputa entre os programas de Faustão e Gugu ficar mais acirrada.
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Em agosto daquele ano, Gugu chamou ao palco uma ‘atração bizarra’: os mexicanos lobisomens. Se tratavam de homens com hipertricose – uma doença que gera crescimento excessivo dos pelos. Os convidados foram bombardeados com perguntas constrangedoras, a respeito da forma como aconteciam seus banhos e até mesmo se suas famílias tinham algo a ver com a lenda dos lobisomens.
Apesar de apelativo, o show rendeu 16 pontos de audiência, o que representou um crescimento de 25% do público de Gugu Liberato e fez com que Fausto Silva buscasse por um convidado ao mesmo ‘nível’, para recuperar a atenção dos telespectadores. Dessa maneira, em 8 de setembro, Rafael Pereira dos Santos, um jovem de 15 anos, portador da síndrome de Seckel, apareceu no palco do programa global.
O distúrbio genético causa nanismo, microcefalia e deformações faciais, além de deficiência intelectual. Na ocasião, o rapaz se vestiu como o cantor Latino e chegou a dançar no palco ao lado do verdadeiro artista. Em sua inocência, o ‘Latininho’ não percebeu que estava sendo humilhado em rede nacional. Todos os comentários de Rafael, com seus 87 cm de altura, viravam piada.
A participação de Latininho rendeu 30 pontos de audiência, mas não livrou Faustão e a produção das críticas. O motivo? Eles haviam quebrado o famoso ‘padrão Globo de qualidade’, que não costumava se utilizar de conteúdos apelativos como outras emissoras. Em entrevista a Folha de S. Paulo, o apresentador tentou se retratar, justificando que a concorrência o obrigava a cair no popularesco por conta de toda a pressão.
Por onde anda Latininho?
Conhecido como Rafaelzinho, o jovem era natural de Colatina, cidade ao norte do Espírito Santo, e muito querido pelos moradores do lugar. Infelizmente, pelas apurações feitas através de comentários de moradores e conhecidos do rapaz no Facebook, Rafael Pereira dos Santos faleceu em 23/06/2005. De acordo com as informações de um usuário, o pai teria confirmado a data e a causa: uma pneumonia.
Em uma publicação que relembra a participação de Rafaelzinho na mídia, uma mulher que se identifica como irmã de ‘Latininho’, chamada Jackeline Pereira, denuncia a humilhação sofrida pelo jovem: “Não tem nada que se aproveita na participação do meu irmão nesse programa. Se prestarem atenção, vão perceber que meu irmão, em sua inocência, foi humilhado e ridicularizado por esse apresentador (…) Temos lindas lembranças dele, isso aí só nos causa tristeza”.
Outros comentários também afirmam que Rafael já teria falecido há bastante tempo.
*com colaboração de Savanna Machado