O legado dos “Amigos“: imagina o que acontece quando se juntam três das maiores duplas sertanejas de todos os tempos para um projeto comemorativo onde os seus sucessos são o principal cartão postal e suas vozes são algumas das mais respeitadas da indústria?
A pergunta é simples e a resposta mais ainda: se faz história.
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O show “Amigos” surgiu na década de 90, auge da música sertaneja no Brasil, e contou inicialmente com três duplas sertanejas: Chitãzinho e Xororó, Zezé Di Camargo e Luciano e Leandro e Leonardo. O nome, simples, carregava grandes significados, especialmente do carinho entre seus membros.
Exibido de 1995 a 1998 na tradicional grade de fim de ano da TV Globo, o projeto logo se tornou um dos mais cobiçados entre o público e contratantes. A febre era tanta que todo mundo queria ver tais duplas em cima dos palcos ou na tela da maior emissora do país, e o desejo foi atendido durante anos.
Em 98, a trágica morte de Leandro, vítima de um câncer no pulmão, desacelerou os planos para os “Amigos”, que poderiam até ter continuado com um projeto fixo caso a tragédia não tivesse acontecido. Naquele ano ainda houve um especial de fim de ano, mas o clima era outro: a alegria deu lugar às lágrimas e a felicidade se transformou em saudade e saudosismo.
Em 2019, 20 anos depois da última exibição e reunião dos “Amigos”, Chitãzinho e Xororó, Zezé Di Camargo e Luciano e Leonardo resolveram reviver este que foi um dos maiores projetos da história da música sertaneja. Dessa forma, nascia o “Amigos 20 Anos: a História Continua“.
Ao longo daquele ano, mesmo com a ausência de Leandro, a turnê dos “Amigos” foi um completo sucesso. Com shows nas principais capitais do Brasil, o projeto ia de vento em popa, mas como tudo que é bom dura pouco, logo foi anunciado que acabaria em 2020.
Como nem o maior roteirista dessa bagunça que chamamos de vida poderia imaginar, a pandemia acabou adiando todos os planos dos sertanejos por mais de dois anos. Em 2022, o show retornou com o cumprimento de datas adiadas durante os anos passados, mas já com um triste gostinho que estava prestes a acabar.
E de fato está.
Antes de mais nada, se você que me lê agora é ouvinte de música sertaneja, tem como esquecer do especial “Amigos”, transmitido pela Globo em 2019?
Na ocasião, a primeira vez em que os sertanejos ganharam um espetáculo próprio na emissora carioca desde 1998, o público foi ao delírio e o resultado foi um dos maiores índices de audiência para especiais na emissora, refletindo no desejo popular.
A audiência foi tanta que deixou até o rei Roberto Carlos no chinelo. E, de acordo com informações divulgadas pelo site Movimento Country, a emissora quer repetir a fórmula de sucesso com o público que curte um bom e velho sertanejo.
Para isso, um dos últimos shows do projeto, que acontece no dia 02 de dezembro em São Paulo, será mais do que especial: na ocasião, será gravado um especial para ser transmitido pela TV Globo nos últimos dias do ano. Juntos, Chitãzinho e Xororó, Zezé e Luciano e Leonardo prometem, mais uma vez, emocionar todos os seus fãs.
Desde 1998, a vida dos “Amigos” mudou consideravelmente. Naquela época, no auge de suas carreiras, a possibilidade de se estourar sucessos era deveras maior. O tempo passou, os novos hits ralearam, as seus legados permaneceram intocáveis.
Chitãozinho e Xororó, com o fim do projeto, continuaram a fazer aquilo que os moveu durante toda a vida: fazendo música boa. Vieram os 30, 40, 50 anos de carreira, vários Grammys Latinos para a conta, presença em trilha sonora de novelas e muito mais.
Leonardo, após a morte de Leandro, se permitiu ser o cara brincalhão e alto astral que todo mundo ama em reuniões de família, encontro de amigos e, claro, presenciar em cima dos palcos.
Tendo passado por momentos difíceis sem o irmão, ele chegou a pensar em desistir da carreira, mas seguiu firme. Quase caiu em ostracismo, mas foi resgatado por Eduardo Costa com o “Cabaré”, projeto que, dadas as polêmicas, o colocou novamente entre os shows mais requisitados do país.
E quanto a Zezé Di Camargo e Luciano… bem… separamos um tópico exclusivo logo abaixo.
Ainda detentores de uma das maiores e mais bonitas carreiras da música sertaneja, Zezé Di Camargo e Luciano parecem ter sofrido um pouco mais com a chegada do tempo e do envelhecimento, especialmente a primeira voz da dupla.
Em meio a vários rumores de separação, polêmicas, a morte do pai Francisco Camargo e até desentendimentos públicos, com cada um seguindo ramos musicai separados hoje, o que realmente passou a tomar conta dos noticiários foi a voz de Zezé Di Camargo.
O que antes representava um dos agudos mais respeitáveis da indústria da música e uma das potências vocais mais elogiadas entre técnicos e críticos, parece ter se resumido a constantes falhas e até piadas nas redes sociais.
Na luta contra um cisto nas cordas vocais há anos, o desempenho de Zezé nos palcos está visivelmente comprometido. Mas aquela criança, que sonhava conquistar o Brasil com sua voz, ousaria parar de cantar justamente pela sua maior virtude ter virado o seu grande pesadelo?
Seria esta a hora de saber quando parar?
É, este é um tópico doloroso, mas necessário. Nos últimos anos, Zezé Di Camargo vem tendo seu nome veiculado em uma série de imagens e vídeo extremamente vexatórios, usados inclusive por aqueles que não gostam dele para ofendê-lo nas redes sociais.
Ciente de seu problema vocal, o artista até mudou sua forma de cantar, vem tentando se conter em apresentações e, na maioria delas, divide mais tempo cantando ao lado de seu irmão Luciano do que o comum. Este é um indicativo visível que as coisas não estão como deveriam.
O portal Movimento Country garante que amigos já aconselharam o cantor sertanejo a se aposentar, mesmo que o assunto seja fora de questão para o astro. Mas acho que o encerramento do projeto “Amigos” poderia identificar o fim de uma das carreiras mais brilhantes da música sertaneja.
Projeto e cantor, igualmente lendários, encerrando suas atividades ao mesmo tempo, seria histórico. Representaria o agradecimento por seu sucesso estrondoso ao lado de Luciano, agora como cantor solo, e do seu projeto mais bem-sucedido com Chitãozinho e Xororó e Leonardo.
Pois bem, sabemos que esta hipótese sequer passa pela cabeça do cantor de “É o Amor“, que deve fazer algo grandioso quando decidir deixar os palcos. E este artigo não é uma crítica a Zezé Di Camargo, sua voz ou atitudes veiculadas em outros portais.
É, sobretudo, uma reflexão de que deveríamos saber quando é a hora de parar. Pelo nosso próprio bem, pela nossa própria saúde. E Zezé deve até negar, mas esta pode ser a hora de colocar o pé no freio e agradecer por tudo que aconteceu até aqui.