Experiência Musical

Bruna Pena contempla de forma sensível a dualidade entre o perene e o efêmero em seu novo lançamento, “Get Me In The Wind”

Faixa une indie, pop e eletrônico

Publicado em 21/06/2023
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A talentosa cantora e compositora de Curitiba, Bruna Pena, mergulha em uma fusão envolvente e sensual de elementos eletrônicos, pop e indie em seu mais recente lançamento, intitulado “Get Me In The Wind”. A faixa é uma reflexão sobre a dualidade entre o efêmero e o duradouro, e solidifica uma das características marcantes do trabalho da artista: retratar as sensações de uma geração em busca de conexões, tanto com o mundo ao seu redor quanto com seu mundo interno. O single chega acompanhado de um lyric video, acrescentando uma dimensão visual à experiência musical.

Essa nova música se soma a uma carreira que teve início em 2009, nas bandas Janela Oval e Hot Beigal Shop, e que também incluiu incursões como roteirista e diretora na Salted Films. Desde 2022, Bruna tem revelado uma série de novidades que combinam de forma inédita seus três aspectos artísticos – musical, lírico e visual.

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Bruna Pena está pronta para apresentar ao público suas canções mais intensas, viscerais e sinceras, contando com a mixagem e masterização de Vivian Kuczynski. As novas faixas já estão disponíveis para streaming através da plataforma Dorsal Musik.

Conte-nos sobre a atmosfera criativa e única que você buscou criar durante sua performance no Arena Sessions, no estádio da Arena da Baixada.

Os espelhos foram uma grande ideia que Vinicius de Lima, o diretor de fotografia, nos trouxe. Ela resolveria vários “problemas de produção” além de traduzir uma estética visual de “encantamento” que eu estava buscando para a cena, com os feixes de luz entre os espelhos, e a dispersão da luz em várias cores, também preencheria mais o palco que parecia vazio só comigo e com Henrique Geladeira.

Quando surgiu o problema “a equipe pode vazar nos espelhos, como resolvemos?” a resposta já estava na ponta da língua. Não resolvemos, porque não é um problema. A gente quer mostrar a equipe e essa “coreografia da produção”. A gente quer mostrar o encantamento, mas também o processo, mostrar que precisa de muita gente e muito trabalho para se fazer um artista. Em vez de esconder, a gente sentou a mão para mostrar mais.

Entendo que as obras artísticas, principalmente quando se fala de uma realidade brasileira de indústria cultural, vão nascendo de uma dificuldade entre o planejar e o produzir. Por isso me interessa muito que parte desse processo, que foge dessa “suspensão da realidade” que tentamos sempre criar em videoclipes, shows e filmes, transborde na obra final. Colocar a equipe – a técnica – no palco de alguma forma, usar elementos do cotidiano cinematográfico, como tripés, compartilhar alguns erros de processo, não usar maquiagem em dado momento, lembram o espectador de que aquilo que ele está vendo é uma construção feita por muitas pessoas. A gente quer lembrar que quem está ali no palco é uma pessoa que precisa de muitas outras pessoas e tecnologias para criar essa aura mística que o palco traz. Meio que um sonho, mas sem perder o pé no chão. Não quero criar mais um mito, a gente já tem tantos.

Como a presença dos espelhos e a iluminação especial contribuíram para a estética e a experiência visual da sua apresentação?

Eles trouxeram um encantamento para a session, trouxeram mais dimensões e movimento com os desenhos dos feixes de luz. Ao mesmo tempo, por estarem em tripés e a gente também assumir os equipamentos de filmagem e som como cenário, criou-se uma tensão. Essa tensão desafia a suspensão da realidade, desse encantamento. E quando nos reflexos do espelho, a equipe também vaza em cena, mais uma vez a gente rasga esse encantamento. O industrial, a vida real, versus o encantamento, a fantasia. Pra deixar aquela provocação ao espectador, aquele puxão.

Bruna Pena (Foto: Carolina Castanho)

Como você enxerga o projeto Arena Sounds e sua capacidade de transcender a visão convencional de um estádio de futebol, permitindo que artistas criem atmosferas únicas?

Eu acho super importante que times de futebol se predisponham a atuar como agentes culturais e incentivadores de novos artistas das suas cidades. Seja para o próprio time,  abrindo novos nichos de mercado para espaço, o estádio, que por várias horas fica ocioso. Seja pela responsabilidade de coabitar e compartilhar um mesmo lugar, um mesmo espaço, e incentivar outras formas de expressão – e de vida – desse mesmo lugar.

Além de sua carreira como cantora e compositora, você também é roteirista e diretora. Como essas habilidades se entrelaçam em seu trabalho artístico?

Uma soma absurdamente na outra. Escrever roteiro me trouxe um tipo de escrita, que é muito visual e sonora. Eu pratiquei muito o uso de palavras-imagens ou do como transmitir visualidades pela palavra. Algo que parece mas não é muito óbvio. Um tipo de texto que qualquer palavra a mais pode interferir muito, então estamos sempre buscando a precisão. Isso trouxe pra mim muito do jeito como eu escrevo minhas músicas. E a direção me traz uma habilidade de transformar palavras em imagens e sons, mas também a trabalhar com pessoas, a entender e criar atmosferas. Eu levo isso para o que tenho trabalhado e com quem tenho trabalhado. O meu processo criativo também é todo doido, por causa desse entrelaçamento. “Tu Dum” é um ótimo exemplo de como essas coisas se entrelaçam na prática. Eu, primeiro, imaginei um stop motion de um desenho de coração sendo amassado e desamassado no ritmo de um pulso de coração. E por causa disso me veio o “Tu Dum” na cabeça, essa onomatopeia do pulsar. Em seguida foi vindo uma melodia… Eu pensava no som, em uma frase e nessa frase tinha alguma palavra que trazia uma imagem e eu ia desenhando videoclipe e música ao mesmo tempo.

Suas primeiras músicas e videoclipes, lançados no ano passado, foram descritos como intensos, viscerais e sinceros, transitando entre o pop e o indie. Como você descreveria a essência e a mensagem por trás dessas criações?

Eu acho que as músicas nasceram de uma conversa minha com meu eu lírico. Uma conversa bem honesta, que revelam muitas das minhas contradições e desejos. Nasceram em lampejos, quase gorfos, bem intensos de inspiração, que eu nunca tinha tido em nenhum processo criativo anterior. Não partiram de uma sonoridade ou um gênero musical específico. Eram as minhas referências mais internalizadas, digeridas e ressignificadas que iam sendo cuspidas a todo custo. Uma mistura do que eu mais gostava da vida e nem sabia direito, porque era um gostar mais com o corpo mais do que com a mente.

Bruna Pena (Foto: Carolina Castanho)

Ao receber o feedback do idealizador e curador do projeto, Marcel Bely, sobre a ideia dos espelhos refletindo sua imagem, como você reagiu e de que forma isso dialoga com a temática de suas músicas?

Quando Marcel Bely, o idealizador e curador do projeto, comentou comigo que achou incrível a ideia de colocar os espelhos com meus reflexos me encarando, como se eu não pudesse fugir de mim mesma, eu fiquei imensamente feliz. Não tinha pensado nesse sentido, que também dialoga com outros conceitos que tenho trabalhado nas músicas. A ideia desse diálogo entre eu e meu eu-lírico, nesse caso, meus eus-liricos.

Qual é a importância para você de gerar significado e impactar as pessoas por meio de sua música? O que mais te motiva nesse processo criativo?

O gerar significado e impactar pessoas já é a importância em si pra mim. Conseguir isso é um sonho. A partir disso pensar o que fazer com esse impacto e com esses significados. Qual a consequência do que estou criando nesse mundo. Estou sempre pensando sobre isso. Como criar formas de incentivar as pessoas a se conhecerem mais e terem um pézinho de desconfiança das suas escolhas de consumo, nos seus hábitos, do que andam escondendo de si mesmas… Não quero criar receitas ou dar respostas, mas quero trazer dúvidas que façam quem ouve seguir pela resposta mais honesta com a sua verdade, consigo mesmo. Olho no olho.

Onde o público pode encontrar o material completo de sua apresentação no Arena Sessions? Além disso, quais clipes estão disponíveis em seu canal no YouTube e no Club Athletico Paranaense?

O público pode ver no meu canal do youtube e no canal do clube Athletico Paranaense duas músicas. A versão na íntegra está disponível da TV Furação, que é o canal de streaming do Clube Atheltico Paranaense.

Como essa participação no Arena Sessions contribui para sua carreira artística e quais são suas expectativas em relação aos resultados dessa experiência?

A sensação de ouvir minha música tocando em um lugar tão grande e simbólico como um estádio é surreal. Então primeiro contribui para fortalecer meu imaginário com essa experiência. Isso sem dizer da visibilidade que esse material traz, muitas pessoas diferentes tem acesso as músicas, e da credibilidade de ter realizado uma produção como essa.

Para finalizar, o que você deseja transmitir aos fãs e admiradores que acompanharam sua performance no estádio da Arena da Baixada e estão apoiando sua trajetória musical?

Eu realmente fico imensamente feliz e agradecida que um trabalho tão sincero e que me toca tão profundamente possa tocar outras pessoas também, possa deixar outras pessoas encantadas. Para mim a coisa mais importante nessa vida é criar conexão com outras pessoas. É se deixar mover e transformar pela troca com outros seres humanos. Essa conexão que – não importa se 5 segundos ou 5 músicas – faz revoluções viscerais.

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