O especialista em tecnologia, inovação e marketing, Helbert Costa, apresenta sua mais recente obra, “ChatGPT Explicado”, publicada pela Citadel Grupo Editorial. No livro, escrito em apenas 10 dias com o uso do próprio software de respostas, Helbert mergulha no debate sobre a inteligência artificial (IA) e seu impacto no mercado de trabalho, comunicação e produção de conteúdo. Ao invés de temer a substituição pela IA, o autor defende que é hora de se preparar para trabalhar em conjunto com essas tecnologias.
Como sócio da Monte Bravo Investimentos e conselheiro da Play9, Helbert enfatiza que a automação de processos já é uma realidade em empresas competitivas e alerta que a extinção de vagas de trabalho é uma questão inevitável. No entanto, ele também ressalta a importância de não se tornar excessivamente dependente da IA, destacando a necessidade de manter a capacidade de raciocinar criticamente e de preservar a empatia e a compreensão interpessoal.
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No livro, o autor explora o funcionamento do ChatGPT e outras ferramentas de IA, abordando os benefícios e desafios no ambiente de trabalho, questões éticas, manipulação de informações e como identificar possíveis problemas. Além disso, oferece dicas práticas para começar a utilizar a ferramenta, insights para produção de conteúdo e linguagem de programação. Com um bot de respostas integrado, o “HelBot”, o livro busca manter seus conteúdos atualizados e se tornar um guia indispensável para aqueles que desejam explorar as possibilidades da inteligência artificial.
Qual foi a motivação por trás da escrita do livro “ChatGPT Explicado” e qual mensagem você espera transmitir aos leitores?
Quero ajudar as pessoas e empresas a se prepararem para o mundo que estamos vivendo. Vejo que muitas pessoas possuem uma cegueira seletiva e tentam não ver o que está acontecendo no mundo de hoje, sendo que a realidade é uma só: dominar ou não a inteligência artificial determinará se a pessoa vai pertencer ao grupo altamente produtivo ou ao grupo facilmente substituível. Milhões de empregos estão desaparecendo à medida que as primeiras pessoas estão se tornando extraordinariamente mais produtivas, eliminando a necessidade de equipes inteiras para executar tarefas rotineiras. Conheço hoje pessoas que com 3 meses de uso da IA já produzem por uma equipe inteira, assim como conheço pessoas que perderam seus empregos ou viram suas empresas reduzidas a pó por não se prepararem para a Era a IA. Quero mostrar para as pessoas que você pode ter a melhor época profissional da sua vida ou a pior. Cabe exclusivamente a escolha de cada pessoa.
Como você enxerga a relação entre inteligência artificial e o mercado de trabalho? Quais são os benefícios e desafios dessa interação?
Claramente a inteligência artificial (IA) está mudando o mercado de trabalho. À medida que a IA se torna mais fácil de usar, ela está sendo usada por trabalhadores de várias indústrias para automatizar tarefas que eram anteriormente realizadas exclusivamente por humanos. Isso está levando à perda de empregos em algumas indústrias, como a manufatura e os serviços. No entanto, a IA também está criando empregos em outras indústrias, como a tecnologia e a saúde.
Ao longo do tempo, os países mais tecnológicos provavelmente terão uma vantagem competitiva sobre os países menos tecnológicos. Os países mais tecnológicos terão mais acesso à IA e poderão capacitar pessoas para usar a IA para criar produtos e serviços. Isso levará a um aumento na produtividade e à criação de novos empregos. O mesmo acontecerá nas empresas e com as pessoas dentro de um mesmo mercado. As pessoas que são capazes de aprender e se adaptar às novas tecnologias serão mais bem-sucedidas. As pessoas que não, provavelmente perderão seus empregos. Mas repare que não perderão seus empregos para a IA. Perderão para pessoas que usam a IA melhor que elas. Entender essa diferença é crucial para o desenvolvimento das pessoas.
Nesse ponto vale citar o relatório de outubro de 2020 do Fórum Econômico Mundial, que prevê que a IA deve eliminar aproximadamente 85 milhões de empregos em todo o mundo até 2025. No entanto, também é esperado que gere 97 milhões de novos empregos em vários campos, incluindo big data, aprendizado de máquina, segurança da informação e marketing digital. O problema em países como o Brasil é que essa transição de carreira não é tão fácil, pois veremos mudanças como: fecha uma vaga de faxineiro, abre uma vaga de engenheiro com conhecimento em visão computacional e engenharia mecânica para construir robôs de limpeza e manutenção. Fecha uma vaga de motorista de caminhão ou entregador, abre uma vaga de especialista em sistemas de navegação e controle de frota autônoma. Nesses dois exemplos fica claro que essa adaptação não será fácil.
Essas mesmas mudanças vão acontecer também nos escritórios. Fecha uma vaga de recepcionista, abre uma vaga de especialista em chatbots e atendimento virtual com conhecimento avançado em prompts. Fecha uma vaga de analista financeiro, abre uma vaga de especialista em modelagem financeira e previsão de dados para dar suporte às decisões empresariais, usando IA. Para isso a pessoa precisará conhecer várias plataformas e programação em Python. Existem várias pessoas com esse conhecimento? Não. Mas uma pessoa com esse conhecimento vai produzir por uma equipe de dezenas de analistas. Então aqui temos um caso claro de oportunidade para um e um cenário não muito promissor para outros.
Em seu livro, você destaca a importância do raciocínio crítico e da empatia mesmo com o avanço da inteligência artificial. Como podemos equilibrar o uso da tecnologia com habilidades humanas essenciais?
Duas das habilidades humanas mais importantes são o raciocínio crítico e a empatia. O raciocínio crítico é uma habilidade humana essencial que nos permite questionar, identificar lacunas nas informações e formar nossas próprias opiniões. Isso é especialmente importante na Era da IA, onde somos constantemente bombardeados com informações e precisamos ser capazes de discernir entre a verdade e as distorções. A IA pode ser programada para simular empatia, mas não possui uma experiência de vida e uma compreensão subjetiva como um ser humano, limitando sua capacidade de entender e responder adequadamente às nuances emocionais e complexidades do indivíduo. Ou seja, essas são as habilidades humanas mais importantes. O raciocínio crítico é a capacidade de pensar de forma lógica e objetiva, e de avaliar informações de forma crítica. A empatia é a capacidade de entender e compartilhar os sentimentos de outra pessoa. Essas habilidades são essenciais para tomar boas decisões, resolver problemas, construir relacionamentos e, inclusive, construir produtos novos.
Para equilibrar o uso da tecnologia com essas habilidades humanas essenciais, é importante que tanto os indivíduos quanto as empresas adotem uma abordagem consciente e intencional. Isso pode incluir o aprendizado de novas tecnologias e ferramentas, bem como o aprimoramento de habilidades exclusivamente humanas. As empresas também têm um papel importante a desempenhar, sendo transparentes sobre como e onde a IA estar sendo usada e oferecendo treinamento e suporte aos seus funcionários para que possam se adaptar às mudanças.
Além disso, é importante reconhecer que a tecnologia, embora útil, não pode satisfazer plenamente nossas necessidades emocionais e sociais. Precisamos cultivar relacionamentos autênticos, compreensão e cuidado com os outros… valorizar a riqueza das interações face a face. Priorizando a conexão, podemos criar um equilíbrio saudável entre a eficiência tecnológica e a condição humana. É possível aproveitar o melhor dos dois mundos.
Quais são as principais preocupações éticas relacionadas ao uso da inteligência artificial e como podemos abordá-las de forma responsável?
A inteligência artificial (IA) traz consigo uma série de riscos éticos potenciais. O mais significativo deles é a perpetuação e amplificação de vieses de discriminação e preconceito. Este risco é acentuado pela tendência da IA de ser treinada em conjuntos de dados coletados por nossas sociedades ao longo do tempo, refletindo a atual predominância cultural, social e política.
Uma implicação perigosa desta tendência é a ameaça à diversidade cultural e ao pluralismo. A IA, com seu algoritmo baseado na maximização da probabilidade, pode favorecer comportamentos e crenças comuns encontrados nos dados de treinamento – que são frequentemente coletados de populações majoritárias e altamente conectadas. Isso pode resultar em um viés sistêmico contra sociedades minoritárias, suas culturas e costumes distintos.
Esse viés pode criar uma espécie de “assimilação digital”, onde as respostas geradas pela IA estão em conformidade com a norma cultural dominante, em vez de refletir a diversidade e a pluralidade de nossas sociedades globais. As gerações futuras, cada vez mais influenciadas pela IA, podem acabar adotando hábitos e crenças mais alinhados com a cultura predominante, em detrimento de suas próprias tradições. Isso já aconteceu com o advento da internet, e se intensifica agora.
Este risco de homogeneização cultural através da IA é particularmente alarmante quando consideramos como a tecnologia se tornou central para nossa vida cotidiana e para a formação de nossas percepções do mundo. Se esse tema não for abordado, corremos o risco de um “apagamento digital” de culturas minoritárias, onde as vozes, tradições e visões de mundo de sociedades minoritárias são marginalizadas ou esquecidas.
Por isso, para abordar a IA de forma responsável, é essencial que consideremos a representatividade cultural. Para isso devemos garantir que os conjuntos de dados usados para treinar modelos de IA sejam representativos da diversidade humana. Isso inclui diversidade em termos de raça, gênero, idade, cultura, religião, localização geográfica e assim por diante. Precisamos de modelos matemáticos que levem em conta este fator ao realizar o cálculo de uma resposta. Além disso, precisamos urgente de regulamentações e políticas sobre o assunto. Precisamos de leis que governem o uso da IA, com ênfase na proteção contra a discriminação e a preservação da diversidade cultural. Isso pode incluir diretrizes sobre como os modelos de IA são treinados e testados, e a imposição de penalidades para o uso inadequado da IA. Concordo que as empresas precisam ter um espaço para trabalhar, mas esse espaço hoje é completamente livre, aberto a qualquer tipo de abuso.
Como a inteligência artificial, como o ChatGPT, pode ser aplicada de forma eficiente na área da saúde e da educação? Quais são os benefícios que essa tecnologia traz para esses setores?
Esses dois setores são extremamente impactados pela IA, tanto que eles possuem destaque no meu livro. Vamos começar pela saúde, podemos citar um estudo muito interessante publicado em abril de 2023 pela JAMA Medicina Interna que revelou que 80% dos pacientes preferiram ser atendidos por um robô. Esse estudo destaca a aceitação crescente da IA na saúde. Ou seja, IA pode tornar os sistemas de saúde mais inteligentes, rápidos e eficientes. O uso do ChatGPT para geração de linguagem natural pode melhorar o envolvimento e a comunicação entre pacientes, profissionais de saúde e os robôs podendo criar uma interação fluida entre essas partes. Além disso, os chats que usam a tecnologia do ChatGPT podem ser aplicados à administração de saúde para automatizar tarefas administrativas, como o agendamento de consultas, gerenciamento de registros e atendimento ao cliente, reduzindo em até 50% o tempo gasto nessas atividades.
Na educação, a IA tem um grande potencial para auxiliar professores e alunos. O ChatGPT, por exemplo, pode fornecer suporte personalizado aos alunos, respondendo a perguntas individuais e oferecendo explicações claras e detalhadas. Isso promove um aprendizado mais eficiente e personalizado. Como eu ensino no meu livro, um professor ou escola pode criar um Bot que ajude um aluno a fazer um trabalho ou responder questões, sem necessariamente dar a resposta. O Bot pode agir como um professor e ir estimulando o pensamento do aluno, fazendo ele chegar por si mesmo na resposta. A IA também pode identificar gaps de aprendizado e criar planos individuais de ensino para alunos, o que é praticamente impossível para um professor sem conhecimento em AI.
Você menciona no livro a importância de atualização constante do HelBot. Como você vê o futuro do aprendizado automático e da melhoria contínua das tecnologias de IA?
Isso nos traz de volta para a questão número três, onde falamos sobre a importância do raciocínio crítico. Em um mundo onde a informação sempre está disponível e atualizada a diferença se dá na forma em que você faz as perguntas e, acima de tudo, no modo com que você assimila a resposta. Se você fizer a mesma pergunta para o Bard do Google, ou Chatgpt da OpenIA, você terá respostas diferentes e caberá a você entender o contexto e eventuais erros nas respostas, que serão corrigidos fazendo a pergunta de forma diferentes. Ou seja, assim como o Helbot deu uma experiência única ao leitor, onde ele tem um livro que o conteúdo praticamente nunca acaba, o desafio é do leitor em saber usar essas ferramentas e não mais em passar horas procurando um conteúdo.
Quais são os principais desafios que as empresas enfrentam ao adotar a inteligência artificial em seus processos e como elas podem superá-los?
Os maiores desafios hoje não estão na tecnologia ou no custo para adquiri-la, mas na falta de habilidades técnicas internas das empresas para implementar e gerenciar soluções de IA. Vejo no mercado que esse problema se acentua na alta gestão da empresa que, muitas vezes por ignorância no assunto, entende a IA como “uma onda que vai passar” e por isso não se prepara e não prepara a sua equipe. A adoção da IA vai exigir mudanças significativas na forma como uma empresa opera, o que pode causar a resistência dos funcionários. Para superar isso, as empresas devem se comunicar claramente sobre os benefícios da IA investir em treinamento e educação para sua equipe, ou procurar parcerias com fornecedores de IA ou consultores especializados.
Do ponto de vista de desafios tecnológicos, para uma adoção mais profunda, a qualidade e acesso aos dados é o maior problema pois a IA depende de grandes quantidades de dados. No entanto, muitas empresas têm problemas com dados desestruturados, inacessíveis ou de baixa qualidade. Outro ponto é a integração com sistemas existentes. A integração entre novas soluções de IA e sistemas ou processos existentes pode ser complexa e disruptiva.
Para reduzir esse impacto a empresa deve usar uma abordagem passo a passo, começando com projetos piloto e escalando gradualmente, identificando necessidades de dados e integrações. Indico nunca começar pelos processos core da empresa e sim por processos periféricos, dando à empresa conhecimento e habilidade no assunto.
Além do ChatGPT, quais outras tecnologias de IA você acredita que terão um impacto significativo nos próximos anos? Quais são as tendências que devemos acompanhar?
As IAs de hoje são generativas, ou seja, elas não analisam um problema a fundo, elas usam um vasto treinamento e encontram similaridade entre o que você escreveu e os dados com que ela foi treinada. Por isso, ela é muito boa em escrever textos, mas não tanto em resolver problemas reais. O Google e outras empresas de tecnologia vêm trabalhando fortemente nessa área de IAs resolutivas e acredito que ainda em 2023, no máximo no começo de 2024, teremos acesso às primeiras. Essas IAs terão impacto ainda maior do que as que vimos até agora. Hoje já podemos testar alguns desses experimentos em plataformas que simulam essa resolução de problemas, como AutoGPT ou AgentGPT. Você passa um desafio e ela, sozinha, analisa todas as variáveis e te apresenta uma resposta ou plano para resolver aquele problema.
Sobre as atuais, tecnologias como ChatGPT, Bart ou mesmo IAs nativas do GPT como o Playground da OpenIA, darão um grande diferencial aos profissionais.
Qual é o papel das empresas e profissionais na preparação para o futuro do trabalho em conjunto com a inteligência artificial? Quais habilidades e conhecimentos são essenciais nesse contexto?
Podemos listar muitas coisas que uma empresa poderia fazer, mas para ser objetivo indico começar pelo básico. Incentivar a descoberta e teste de IA no ambiente de trabalho, permitir que os funcionários aprendam enquanto trabalham, desenvolver habilidades práticas que muitas vezes não terão ganho imediato no primeiro uso, mas que irão desenvolver a familiaridade do funcionário com a IA. Algumas empresas estão proibindo o uso de IAs como o ChatGPT na empresa. Eu desafio qualquer gestor a me mostrar um motivo que faça sentido para isso. Isso está acontecendo exclusivamente pela ignorância dos gestores em achar que a IA está aprendendo com os dados deles, o que é tecnicamente impossível.
Para evitar erros como esse, a empresa deve investir em programas de treinamento internos que ajudam os funcionários a entender e aplicar tecnologias de IA. Isso pode incluir oficinas, cursos online e seminários sobre tópicos relevantes. Também é importante que esse treinamento seja continuado e atualizado regularmente para acompanhar a evolução da tecnologia.
Mentoria e coaching também são ótimos. Estabelecer programas de mentoria e coaching pode ajudar os funcionários a aprender com colegas mais experientes ou mesmo com profissionais externos novas habilidades de maneira mais personalizada e direcionada.
Como você vê o futuro da interface entre tecnologia e negócios? Quais são as perspectivas e oportunidades que surgem com o avanço da inteligência artificial e outras tecnologias?
Vivemos em um mundo onde o preço dos serviços e produtos e até mesmo salários são muitas vezes pautados nas horas de produção, na dificuldade de resolver um problema, na taxa de urgência etc. O que acontece quando esses fatores se tornam irrelevantes? Acontece que surgem muitas possibilidades como redução de custos, aumento da oferta de produtos personalizados, aumento da produtividade da empresa. Com tantos benefícios o mercado será empurrado para esse novo mundo e quem não for, vai enfrentar um futuro difícil sem muitas possibilidades. No caso das empresas, irão brigar por clientes. No caso dos funcionários, por postos de trabalhos ou oportunidades, podendo ficar com as fracas, de pouco impacto profissional ou financeiro.
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