Felipe Fagundes, autor brasileiro conhecido por suas histórias bem-humoradas com uma pitada de drama, lançou o seu primeiro livro, intitulado “Gay de Família”. A obra, publicada pela editora Paralela, promete cativar os leitores com uma comédia envolvente que aborda temas como família, amizades complicadas e relacionamentos em geral.
Nascido em 1991 e criado em Nova Iguaçu, Rio de Janeiro, Felipe Fagundes se estabeleceu no Rio de Janeiro ao lado de seu marido. Escrevendo desde 2010, o autor encontrou na comédia uma forma única de se expressar, utilizando o humor como um meio de explorar assuntos mais sérios sem ofender seu público. Ele acredita que suas histórias bem-humoradas são, na verdade, dramas disfarçados, onde o humor prepara o terreno para cenas que tocam o coração dos leitores.
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Em “Gay de Família”, Felipe Fagundes apresenta a história de Diego, um personagem que decide ser gay bem longe de sua família problemática. No entanto, tudo muda quando seu irmão lhe faz um pedido inesperado: que Diego seja babá de seus três sobrinhos por um final de semana. O que parecia uma tarefa simples se torna um desafio quando ele descobre que as crianças são peculiares e que terá que lidar com situações inusitadas, incluindo uma gata demoníaca, um amigo imaginário e um porteiro potencialmente sádico.
“Gay de Família” é uma comédia que promete arrancar risadas dos leitores ao mesmo tempo em que os envolve em uma trama emocionante. Felipe Fagundes se dedica a retratar personagens LGBT+ adultos, explorando suas experiências no trabalho, no casamento e em amizades duradouras. O livro é um retrato divertido e cativante da vida desses personagens, com uma pitada de fantasia em alguns momentos. Confira a entrevista!
‘Gay de Família’ é uma obra que mistura romance e comédia, prendendo o leitor com situações divertidas. Quais suas inspirações para escrever o livro e de que forma desenvolveu a história e os personagens?
Eu sempre pendi para o lado da comédia nos livros que li, então pra mim foi muito natural escrever Gay de Família do jeito que ele é. Adoro histórias cômicas e sempre amei o clichê do homem grandão que de repente se vê tendo que cuidar de várias crianças (acontece muito em filmes, como Treinando o Papai, A Creche do Papai, Um Tira no Jardim de Infância, etc). Gay de Família é a minha versão desse clichê com um homem gay como protagonista da trama.
Você mencionou que prefere escrever sobre personagens LGBT+ adultos em seus livros. Qual é a sua opinião sobre a importância da representatividade LGBT+ na literatura e na mídia em geral e como a literatura pode contribuir para a inclusão e visibilidade da comunidade LGBT+?
A gente só consegue se identificar com aquilo que a gente sabe que existe. São personagens como o Diego de Gay de Família que às vezes serão para os leitores um ponto de esperança ou ainda o único contato de uma pessoa com a comunidade LGBT+. Quanto mais pessoas entendendo que pessoas LGBT+ não são monstros de sete cabeças nem seres míticos, quanto mais entenderem que somos gente como todo mundo, menos barreiras teremos entre nós.
Seu livro “Gay de Família” aborda temas sérios como relacionamentos familiares e questões LGBT+, mas também é uma comédia. Como você equilibrou o humor com a seriedade dos temas abordados?
Muita gente associa humor com falta de profundidade ou entretenimento vazio, mas ele é na verdade uma ferramenta excelente quando queremos tratar de temas doloridos. Gay de Família é uma comédia, sim, mas é fazendo o leitor rir e se sentir à vontade com os personagens que eu tenho a oportunidade de tocar em algumas feridas. É a própria pessoa que lê que abre a porta para que eu entre mais profundo nos dramas.
Além de escritor, você é um grande entusiasta da leitura. Quais são seus autores favoritos e quais livros você recomendaria para alguém que quer se iniciar na literatura LGBT+?
Os livros da Sophie Kinsella (“Os delírios de consumo de Becky Bloom”, entre outros) são meu porto-seguro, lugares para onde eu sei que posso voltar e ser feliz. Os livros do Vitor Martins não ficam atrás. Indico muito “Quinze Dias” do Vitor e “Marketing do Amor” do Renato Ritto para quem ainda não leu livros LGBT+.
Você escreve histórias para a internet desde 2010, nos blogs pessoais e no Wattpad, antes de publicar seu primeiro livro. Como a experiência de escrever online ajudou a moldar sua carreira de escritor?
Escrever é prática. Gay de Família é meu primeiro livro publicado de forma tradicional e por conta disso eu sou considerado um autor estreante, mas a bagagem que carrego comigo enquanto escritor é de anos atrás. Antes de Gay de Família eu escrevi outros dois romances, algumas novelas e contos, participei de algumas coletâneas. Escrever não é algo novo para mim. Ter percorrido esse caminho antes de chegar onde estou hoje foi o que fez eu saber lidar com leitores, feedbacks e a ansiedade de colocar uma história no mundo.
O que você espera que os leitores tirem do seu livro “Gay de Família”? Há uma mensagem que você gostaria de transmitir por meio da história de Diego e seus sobrinhos?
É impossível para um autor saber como nosso livro vai atravessar nossos leitores. Eu apenas espero que o livro entregue gargalhadas e a certeza de que família é uma palavra vazia se não tem ninguém ali realmente pela gente.
Como o personagem Diego se sente em relação à sua identidade sexual e como isso influencia suas relações com a família?
O Diego já passou da fase de ter que se aceitar e se assumir para o mundo, o livro já começa com um Diego orgulhosamente gay. Não é mais algo no qual ele pense a respeito, ele apenas é. Claro que isso com certeza desencadeou várias desavenças na família dele. Os pais não o aceitam, o irmão não sabe lidar com ele, os sobrinhos mal sabem que o tio existe. É até um cenário bem comum entre gays e lésbicas, infelizmente.
De que forma o livro aborda questões relacionadas à diversidade sexual e à representatividade LGBTQ+ na literatura brasileira?
Gay de Família desvia de focar a história em um romance, tema principal das histórias LGBT+ que temos hoje no mercado nacional e internacional. Adoro romances, mas nesse livro preferi mostrar essa faceta da comunidade gay, a forma como nos relacionamos com nossas famílias e principalmente a convivência com crianças, uma relação ainda pouquíssimo representada na ficção.
Existe algum ritual ou algumas “rotinas” que você segue para melhorar seu processo de criatividade antes de escrever seus livros?
Eu nunca paro de ler. Livros do meu nicho, de fora do meu nicho, nacionais, internacionais, o que eu gosto de ler e às vezes livros de fora da minha zona de conforto. Isso me ajuda a entender como boas histórias são escritas. Antes de começar a escrever meus livros, sempre tento descobrir qual é o coração da história e pra onde ela vai. Só começo a escrever de fato quando já tenho o primeiro parágrafo na minha cabeça. Me importo muito com as primeiras palavras das histórias.
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*Com Regina Soares e Affonso Tavares