A figura paterna tem passado por uma transformação significativa, deixando de ser apenas um coadjuvante na criação dos filhos. Nesse contexto, surge a paternidade ativa, desafiando os homens a assumirem um papel mais envolvido e presente. Mas será que estão preparados para essa nova realidade? René Breuel, autor do livro “Não é fácil ser pai”, compartilha sua experiência de forma honesta e divertida, trazendo reflexões sobre esse desafio.
René Breuel é bacharel em Administração pela Fundação Getúlio Vargas, mestre em Escrita Criativa pela Universidade de Oxford, no Reino Unido, e em Teologia pelo Regent College, no Canadá. Além disso, ele é pastor e fundador da Igreja Hopera, localizada em Roma. Como pai de Pietro e Matteo, Breuel relata em seu livro os encantos e as dificuldades que enfrentou ao se tornar pai pela primeira vez, questionando sua prontidão e até mesmo seu desejo de ser pai.
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Com bom humor e empatia, o autor compartilha seus dilemas, trapalhadas e oferece orientações aos pais que estão navegando pelos desafios e alegrias da paternidade. Desde a suspeita de infertilidade até o medo de perder a juventude, passando pelos ajustes matrimoniais e pelas peculiaridades de cuidar de uma criança, “Não é fácil ser pai” é um relato instrutivo que proporciona risadas e importantes lições.
René Breuel, além de seu trabalho como autor, é conhecido por suas contribuições em veículos como Washington Post, Times Literary Supplement, Christianity Today, Evangelical Focus e Ultimato. Seu livro anterior, “O paradoxo da felicidade”, também recebeu reconhecimento. Com uma bagagem acadêmica e vivências pessoais, Breuel compartilha sua jornada como pai, oferecendo uma perspectiva valiosa sobre essa etapa da vida.
O que o inspirou a escrever o livro “Não é fácil ser pai” e compartilhar suas experiências pessoais como pai?
Eu pensava que só as novas mães tinham emoções fortes. Mas quando tirava a máscara de marido responsável e era honesto comigo mesmo, percebi que tinha medo de tornar-me pai. Me perguntava se a minha juventude tinha acabado. Achava que um bebê atrapalharia meu crescimento pessoal. Não sabia se o romance no meu casamento esfriaria com a chegada de um bebê. Não tinha certeza se estava pronto para ser pai, nem mesmo se queria um filho. Colocar palavras no papel me ajudou a discernir os estágios, processar o que estava vivenciando e colocar em ordem minha vida interior.
Como você descreveria a dinâmica da paternidade ativa e por que é importante que os pais se envolvam na criação dos filhos?
Por alguma razão, eu achava que ser pai é não atrapalhar e sair do caminho. Algo tipo: Você não sabe. Nem tenta. Só vai atrapalhar. Deixa pra mãe. Ela sabe. Quando tive filhos, percebi que era um mito não saudável. Temos que ser pais presentes. Seja o pai, seja a mãe, dão contribuições insubstituíveis. Se não transmitirmos essa benção paterna, os nossos filhos vão permanecer em um estado emocional juvenil e passar as suas vidas procurando-a em conquistas profissionais, aprovação de figuras de autoridade e busca de status.
Quais foram os principais desafios que você enfrentou como pai e como você os superou?
O desafio não era aprender a trocar fraldas ou não deixar meu filho cair no chão (ele caiu dos meus braços uma vez e sobreviveu!). Era o meu labirinto de ânimos e medos e mecanismos de fuga da realidade. Eu era o desafio. Eu queria ser um excelente pai. Sabia que poderia fracassar e recomeçar em outras áreas da vida, mas essa era uma área na qual queria acertar desde o começo. Refletir sobre as minhas emoções e escrever o livro foi o que mais me ajudou mesmo.
Qual é a importância do humor e da empatia ao abordar os dilemas e ‘trapalhadas’ da paternidade?
É fundamental! Por exemplo, comecei a achar a bagunça criada pelas crianças estranhamente reconfortante. Era gostoso unir-se a outras famílias com crianças e não ser julgado se o nosso bebê era barulhento. Ainda melhor era ver outras crianças fazendo berra, enquanto a nossa se comportava como um anjo e nos permitia julgar os outros só um pouquinho. Quem diria que os choros de outros bebês seriam calmantes? É como se dissessem: Está tudo bem. É o que os bebês fazem, eles choram. O seu não é o único.
Como você equilibra suas responsabilidades como pastor, autor e pai? Existe alguma estratégia específica?
Diria que a estratégia é a flexibilidade e a autoironia! Equilibrar trabalho e família nunca é fácil, e no meu caso família e trabalho geralmente se sobrepõem. Compartilho o “escritório” com brinquedos e desenhos durante o dia e organizo eventos e encontro as pessoas à noite e aos fins de semana, quando elas não trabalham. Uma ideia prática que me ajudou foi criar blocos de tempo, dedicando as manhãs para a escrita, as tardes a reuniões, o fim da tarde para tempo em família e algumas noites para eventos e encontros pastorais.
Como você lida com a pressão social e as expectativas em relação à paternidade?
Na minha experiência, a pressão foi mais interna, pois queria ser o melhor pai que eu pudesse ser. A pressão social que eu senti, na verdade, era de abaixar o meu engajo e ser um pai passivo. Algo tipo, homens não pensam em virar pai. Já sabem como é: falam de futebol e deixam as reflexões para as meninas. Ser homem é segurar uma cerveja, contar uma piada e sair do caminho. Você não quer se tornar um desses caras sensíveis em contato com os próprios sentimentos. Vai acabar escrevendo poesias e usando gola rolê. Fica longe disso, mano.
Que conselhos você oferece aos pais que estão enfrentando dificuldades e se sentem sobrecarregados na jornada da paternidade?
Bem-vindo ao clube! Não é fácil mesmo. E parece pior de dentro do que te fora. Por exemplo, quando os meus filhos choravam de noite, eu imaginava os vizinhos formando um comitê para conferir nossa forma de criar o bebê e nos expulsar da comunidade dos seres humanos sensatos. Mas aí percebi que é difícil para todo mundo mesmo, e fiquei mais tranquilo!
Como a experiência de criar uma família em um ambiente estrangeiro influenciou sua perspectiva sobre a paternidade?
Quando moramos no Canadá logo depois de nos casar, ficamos felizes de começar nossa própria família longe dos pais. Mas depois que nos mudamos para a Itália e o Pietro e o Matteo nasceram, eu podia ver as desvantagens de morar longe de avós, tios e tias. Há coisas que só outras pessoas podem oferecer: outros pontos de vista, fontes variadas de afeto e um senso de história, perspectiva e família.
Quando eu assistiaàs nonne pegando os netos na escolinha, muitas vezes trazendo um pedaço de pizza quentinho para a criança ir comendo já na saída, o adulto em mim cobiçava a rede de suporte fornecida por avós que moravam por perto, enquanto meu menino interior, confesso, desejava que aquela avó amorosa reparasse em mim e me desse um pedaço de pizza também.
Qual é a importância da comunidade e do apoio mútuo entre os pais na jornada da paternidade?
A felicidade é um projeto coletivo. Ao longo da história, algumas filosofias exaltaram o estereótipo do gênio brilhante, mas a maioria das pessoas intuiu que essa é uma noção irreal, um mito. Precisamos uns dos outros. Uma pessoa verdadeiramente brilhante é aquela que se conecta e ama, elevando as pessoas ao seu redor. E isso inclui os desafios da vida adulta e da paternidade também.
Como você encoraja os pais a se conectarem e compartilharem suas experiências?
Essa semana um amigo me contou que tem um “Grupo da Pracinha” informal que se encontra no final da tarde para conversar, enquanto os filhos brincam no parquinho. Achei uma ideia simples e prática. Ele comprou cópias de “Não é fácil ser pai” para dar aos outros pais. Fiquei honrado como autor, claro, mas achei também um bom modo para os ajudar a conversar sobre o tema, identificar os seus desafios e “reclamar da vida” de jeito positivo, que acaba te ajudando a ser um pai mais engajado.
O que você espera que os leitores levem consigo ao lerem seu livro “Não é fácil ser pai”?
Gostaria de ajudá-los a viver essa fase de vida com maior intencionalidade, leveza e alegria. Se decidiram ler “Não é fácil ser pai”, é porque se importam. Porque estão se esforçando. Porque estão interessados no lindo projeto de ajudar outro ser humano a crescer. Você vai cometer erros, é claro. Tudo mundo comete. Mas aí a vida nos ensina. Algo dentro de nós encara o desafio. E algo grandioso se forma: uma mãe, um pai. Nosso mundo precisa dessas pessoas.
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