O ator e cantor Tiago Barbosa, conhecido por sua atuação marcante como Simba na primeira montagem brasileira de “O Rei Leão”, comemora uma carreira de sucesso que completa uma década. Sua trajetória, repleta de conquistas e coroas tanto no Brasil quanto na Europa, o tornou uma referência como artista brasileiro no cenário internacional. Após brilhar como protagonista na pele de Lola, a famosa drag queen de “Kinky Boots” em Madri, Tiago retorna ao Brasil para estrelar um projeto especial, interpretando um de seus ídolos, Milton Nascimento, no musical “Clube da Esquina – Os Sonhos Não Envelhecem”, e agora se prepara para o desafio duplo de viver gêmeos em “Iron – O Homem da Máscara de Ferro”, uma promissora produção que chega ao 033 Rooftop do Teatro Santander.
Sua carreira deslanchou quando a diretora americana Julie Taymor reconheceu o talento de Tiago Barbosa e o escolheu como o inesquecível Simba do teatro musical. Desde então, o ator não parou de somar sucessos em sua jornada artística. Em terras espanholas, ele assumiu a coroa novamente como Simba, por mais cinco anos, e posteriormente surpreendeu o público com sua atuação exuberante como Lola, ganhando importantes indicações em premiações locais e sendo reconhecido por sua excelência como artista brasileiro na Europa. O Rei da Espanha, Filipe VI, chegou a convidá-lo para um almoço no palácio em meio a outras personalidades ilustres, como o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
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Ao retornar ao Brasil, Tiago mergulhou na interpretação do lendário cantor e compositor Milton Nascimento, em um musical que celebrou os 80 anos de carreira do músico e as cinco décadas de sucesso do movimento Clube da Esquina. Essa experiência o reconectou com suas raízes e proporcionou novas oportunidades, como desfilar para o estilista João Pimenta no SPFW. Agora, o ator se prepara para o próximo desafio: viver dois personagens gêmeos em “Iron – O Homem da Máscara de Ferro”, um musical inédito e original que promete uma experiência imersiva ao público.
Tiago Barbosa é um artista versátil e dedicado, cuja jornada no teatro musical encanta plateias de todas as idades e conquista o coração de grandes nomes da cultura brasileira, como Fernanda Montenegro, Caetano Veloso e Tony Ramos. Seu talento e entrega aos personagens mostram que ele está pronto para enfrentar novos desafios e continuar brilhando nos palcos e na vida dos espectadores. A expectativa é alta para ver a atuação brilhante do ator como gêmeos em “Iron”, e o público pode se preparar para uma experiência teatral inesquecível e emocionante.
Como foi a sua experiência ao interpretar Simba na primeira montagem brasileira de “O Rei Leão” e receber elogios da diretora Julie Taymor?
O Simba realmente na minha vida foi um grande presente, o início de algo muito bonito. Na época, eu não sabia, não tinha ideia da grandiosidade do Rei Leão, e graças a Deus que eu não tinha essa noção, porque isso me ajudou a guardar meu coração e não ter medo do que estaria por vir. Foi realmente um trabalho pelo qual tenho muito carinho, me ajudou muito. Simba me ensinou muito, me mostrou um caminho de possibilidades que eu nunca teria imaginado ter na minha vida. A Julie, o pouco tempo que tive com ela durante todo o período de ensaio, foi um momento muito crucial. Ela me ensinou a simplicidade do ser e estar, e isso foi muito bom para mim.
O teatro musical tem sido uma parte importante da sua carreira. Como essa experiência tem moldado a sua trajetória artística?
Hoje, fundamentalmente, minha carreira é formada dentro do teatro musical, graças a Deus. Dentro desse mercado, tive a oportunidade de dar vida a grandes personagens e romper com alguns paradigmas, sendo pioneiro em muitos outros. Quebrar o paradigma de ser um Príncipe Negro em uma obra como Cinderela foi um marco importante para mim, e agora estou questionando por que não poderia ser também um Rei Luís 14 Negro em uma adaptação de O Homem da Máscara de Ferro. Isso tem sido muito gratificante e estou agradecido por ter diretores e produtores que conhecem meu trabalho, confiam em minha entrega e me convidam para projetos que permitem essa diversidade.
Sinto-me muito orgulhoso e feliz por poder explorar diferentes perspectivas na minha carreira. A oportunidade de interpretar um Príncipe em uma obra e, em seguida, mergulhar em outro personagem completamente diferente, é uma experiência enriquecedora. Tenho conseguido romper com estereótipos e trilhar uma carreira bastante diversificada dentro desse cenário, o que é muito gratificante. Sou grato por cada oportunidade que tenho de desafiar as expectativas e contribuir para a evolução do teatro musical.
Você destacou-se como o primeiro príncipe negro em todas as produções de “Cinderella – O Musical”. Como foi interpretar esse personagem e qual foi a importância dessa representatividade?
Para mim, o meu primeiro grande desafio foi com o espetáculo Toffee. Tenho um carinho especial por esse trabalho, que surgiu em parceria com a empresa e com Renata Borges e Ulisses Cruz. Quando encontrei Ulisses e ele me ofereceu esse presente, na verdade, foi um presente que também era um desafio. Foi a primeira vez no Brasil que um homem negro protagonizou uma obra que, originalmente, tinha personagens predominantemente brancos. Não foi fácil, acho que todo pioneirismo é assim, nunca é fácil, mesmo quando se tem uma produção e uma equipe apoiando.
Mas para mim, foi fundamental, pois me permitiu me estabelecer como homem, cidadão e ser social. Entendi que estava dando voz a diversos outros negros, jovens, adolescentes e crianças que precisavam de uma referência assim como eu precisava quando era criança. Ao olhar para a televisão, buscava um referencial que pudesse inspirar e alimentar meus sonhos. Acredito que me tornei um combustível para muitos jovens, sejam eles periféricos ou não, para que eles enxerguem uma nova possibilidade, uma chance de serem quem quiserem ser.
Essa imaginação deve ser alimentada em todas as crianças para que elas possam ser o que desejam, independentemente do tom de pele ou cor. É importante que elas se vejam representadas e possam acreditar que podem ser príncipes, princesas ou qualquer coisa que desejem ser. Esse é o poder da representatividade, e tenho muito orgulho de fazer parte disso e de inspirar outros a sonhar e a acreditar em suas capacidades.
Depois de atuar na Europa, incluindo a interpretação de Lola em “Kinky Boots”, você decidiu voltar ao Brasil. O que o motivou a retornar e como foi essa transição?
Não foi uma escolha tão puramente dita. Já tinha outros trabalhos encomendados na Espanha que, na verdade, não eram de meu interesse artístico naquele momento. Então, quando veio a proposta para voltar ao Brasil e fazer o “Clube da Esquina”, tudo culminou de uma forma muito bonita. Pela primeira vez, após anos, senti vontade de tirar minha nacionalidade espanhola e obter meu passaporte.
O convite do Denis Carvalho, juntamente com a Vanessa Veiga, para dar vida ao Milton no teatro, pareceu ser um momento ideal. Depois de fazer o “King Boot”, que foi um sucesso na Espanha, decidi retornar ao meu país, onde não estava nos palcos há sete anos, especialmente em São Paulo, para realizar um trabalho que pudesse ser visto nesse cenário. E depois, retornar à Espanha, que escolhi para viver, para estar inserido novamente nesse nicho brasileiro.
Esse é o meu país, a minha língua, então faz parte de mim, faz parte dessa expressão. Foi uma decisão que me permitiu voltar às minhas origens, à minha cultura, e ao mesmo tempo continuar a minha trajetória artística na Espanha, onde também construí uma parte significativa da minha vida. Acredito que tudo aconteceu de forma especial, como um ciclo se fechando e outro se abrindo, permitindo-me estar presente em duas partes importantes da minha jornada como artista.
Interpretar Milton Nascimento no musical “Clube da Esquina – Os Sonhos Não Envelhecem” foi um projeto especial para você. Como foi homenagear esse ídolo e celebrar sua carreira?
Foi um grande desafio, considerando que já fazia sete anos que eu não participava de um projeto no Brasil. Naquela época, decidi me dedicar ainda mais ao espanhol, afastando-me um pouco da língua portuguesa, pois meu compromisso e exposição na Espanha eram cada vez maiores. Participava de muitas entrevistas, programas de televisão e tinha contato com pessoas importantes do cenário político e cultural espanhol. Voltar para o Brasil e me envolver nesse novo projeto significava reestudar, me aproximar novamente da língua portuguesa, algo que eu não fazia há muito tempo. Foi um processo que não foi tão simples assim.
Após seis anos fazendo o Milton Nascimento nos palcos, quando ele estava se despedindo do cenário musical brasileiro aos 80 anos, a responsabilidade era enorme. Sentia o peso dessa coroa e tive até problemas de saúde, como perda capilar e dores de barriga, devido ao peso dessa responsabilidade. O público brasileiro tem muito carinho por esse artista, uma verdadeira divindade, e dar vida a ele nos palcos era uma honra e uma emoção indescritível. Cantar músicas como “Travessia” e “Caçador de Mim” era especial, pois o público reagia com saudosismo e emoção, relembrando a importância que o Milton teve e ainda tem na música popular brasileira. Foi uma experiência maravilhosa e emocionante, e seria um espetáculo que eu adoraria ver retornar um dia.
Agora você está se preparando para interpretar dois personagens diferentes em “Iron – O Homem da Máscara de Ferro”. Como está sendo o desafio de dar vida a esses gêmeos e qual é a expectativa para o público?
Fazer o Jaime dentro do teatro está sendo uma grande oportunidade para mim. É a primeira vez que interpreto esse personagem, e essa responsabilidade me foi confiada pelo meu diretor, Ulisses Cruz, em meio a toda essa loucura sana do processo criativo. Não posso negar que está sendo um estudo intenso, estou lendo muito e buscando referências para dar vida a cada um desses personagens de forma distinta. Desde o jeito de caminhar, falar, cantar e tocar as pessoas, literalmente falando, já que se trata de um espetáculo imersivo e interativo.
É um desafio muito grande sair do universo de outro espetáculo e, ao mesmo tempo, ensaiar e dar vida a dois personagens completamente distintos dentro dessa proposta inovadora. Não posso dizer que seja nada menos do que um processo de muita leitura, paciência e respiração, para poder me entregar por inteiro e não me perder nessa jornada. E, quando me perder, entender que também faz parte do caminho, que errar é uma oportunidade de aprendizado.
Estou aberto para meus colegas de elenco, para meu diretor e para essa obra em si. Essa viagem está sendo muito gostosa, repleta de aprendizados acima de tudo. A cada dia, mergulho em muita leitura e absorção de conhecimento. Estou empenhado em me dedicar plenamente a esse trabalho e é uma jornada de muito aprendizado, acima de qualquer coisa.
Além do teatro, você também teve experiências no mundo da moda, desfilando para o estilista João Pimenta no SPFW. Como foi essa experiência e como a moda se conecta com a sua carreira artística?
Desfilar no São Paulo Fashion Week foi um sonho realizado para mim, graças ao João Pimenta e à Vera Holtz, juntamente com a mentoria da advogada Andréa Francês. Sempre fui uma pessoa visionária e obcecada pelo meu trabalho, e almejava muito acessar o mundo da moda. Cada vez que o São Paulo Fashion Week se aproximava, minha empolgação crescia ainda mais.
Quando Vera Holtz sugeriu que eu poderia desfilar, ela me colocou em contato com João Pimenta. Curiosamente, eu já havia enviado uma mensagem para ele uns cinco anos atrás. E quando finalmente nos encontramos, foi como um encontro de almas, foi uma experiência maravilhosa.
O ambiente da moda é totalmente diferente, um cenário único, com uma logística própria e um corpo de trabalho muito específico. Foi muito interessante acessar esse mundo e ver de perto a rotina e preparação dos modelos para o desfile. Muitas vezes, nós pensamos que o desfile dura apenas alguns segundos, mas, na verdade, há uma preparação que começa muito antes e é tão séria e importante quanto a rotina de um ator de teatro musical. Ambos são atletas do palco, e o trabalho deles é rigoroso.
Eu amei essa experiência no São Paulo Fashion Week e pude ver como o mundo da moda é incrível e desafiador. Foi uma oportunidade única e especial, que guardarei com muito carinho em minha carreira.
Como você define a importância da representatividade no teatro e na cultura em geral? Como isso tem influenciado as suas escolhas artísticas?
O desejo de ser pai é algo que tenho, mas também sinto que tenho muitos outros “filhos” culturais e sociais, como meus alunos, com os quais assumo um compromisso social em minha carreira educacional. Muitas das minhas escolhas artísticas estão ligadas ao impacto social que posso causar, pois entendo que uma carreira vai além do trabalho e dinheiro; é também sobre como pode impactar a sociedade.
Eu venho de uma favela na Vila Ruth, onde sonhos e planejamento são muitas vezes limitados. Poucos jovens da minha comunidade enxergam a carreira artística como uma possibilidade. Por isso, ser um homem negro e ter a oportunidade de protagonizar e ter voz em projetos culturais é algo muito importante para mim.
Olhando para os últimos 10 anos no cenário musical, é notório a falta de protagonistas negros. A representatividade é escassa e acredito que é necessário fazer uma reparação nesse sentido. Enquanto trabalhava na Espanha, percebi que lá, mesmo como protagonista, competia com vários outros homens brancos. Porém, ao voltar para o Brasil, é notável que aqui a representação ainda é limitada e pouco diversificada.
É fundamental termos mais referências, mais profissionais negros no teatro musical brasileiro. Precisamos de produtores que não considerem apenas a cor da pele, mas valorizem o profissionalismo dessas pessoas. É importante que homens e mulheres negros ocupem não apenas os palcos, mas também os bastidores, trazendo suas vozes e perspectivas para o cenário artístico.
O caminho para uma mudança é amplo e desafiador, mas é essencial que sigamos em busca de uma maior representatividade no teatro musical brasileiro. A diversidade enriquece a arte e é responsabilidade de todos fomentar essa inclusão e garantir que todos tenham espaço e voz para expressar suas histórias e culturas.
Quais são os seus planos futuros? Quais projetos você gostaria de realizar ou personagens que gostaria de interpretar?
Entendo perfeitamente que, embora normalmente eu diga que não faço muitos planos para o futuro, agora, como aquariana que sou, sinto que preciso de uma pausa, de tirar férias, nem que seja por 15 dias. Após o trabalho intenso no Brasil, interpretando grandes personagens como Milton Nascimento, Fiel Luiz e outros, sinto a necessidade de voltar para minha casa na Espanha e descansar um pouco, me refazer, oxigenar e respirar novas experiências.
Foram muitos desafios em um curto período de tempo, e antes disso, já vinha de outros trabalhos intensos como Lola e outros. Minhas férias foram praticamente inexistentes, entre voos entre a Espanha e o Brasil, cruzando continentes, e rapidamente embarquei em novos projetos, como o Clube da Esquina, que já estava à espera no outro dia.
Agora, mais do que nunca, sinto a necessidade de descansar e recarregar minhas energias físicas, mentais e vocais. Foi um ano de muito trabalho e dedicação, dando vida a personagens importantes da história. Agradeço imensamente aos produtores que acreditam em mim, no meu potencial e no meu trabalho, confiando-me personagens tão significativos para contar suas histórias.
Apesar das férias, estou animado para os novos desafios que virão. Acredito que, após esse período de descanso, estarei renovado e pronto para encarar novas oportunidades e projetos que possam vir a surgir. Agradeço por fazer parte dessa jornada no teatro musical e pela confiança depositada em mim. Aguardo ansiosamente pelo que o futuro reserva e pelas histórias que ainda terei o privilégio de contar e interpretar.
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