Freud explica?

Por que a Pisadinha é um sucesso nacional?

Dos bailes do Nordeste para conquistar o Brasil: por que a pisadinha é um fenômeno de audiência no streaming e de popularidade e faturamento para os artistas? Entenda:

Publicado em 18/09/2021
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Ainda que você, caríssimo(a) leitor(a), ache que a Pisadinha é algo brega, cafona ou ruim, com pouco valor musical, a grande verdade é que esse gênero musical, derivado do forró, do tecnobrega e de outros ritmos regionais, é sucesso Brasil afora e que, para contragosto da maioria dos ‘acadêmicos’ de plantão, ainda deve se manter no topo por algum tempo. Como dizia Chico Buarque de Holanda na canção Jorge Maravilha: “você não gosta de mim, mas sua filha gosta.”

Então, como diria Marília Gabriela, a grande pergunta que muitos fazem agora é: POR QUE? (leia imitando a apresentadora). O que explica o sucesso de grupos como Barões da Pisadinha e o atual presidiário DJ Ivis, por exemplo. Como explicar esse fenômeno???

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Para título de comparação, a música Recairei, dos Barões da Pisadinha ficou no topo das mais tocadas na virada do ano na plataforma Deezer, na frente de outros hits como Blinding Lights, de The Weeknd, que foi uma das músicas mais executadas mundo afora, atingindo mais de 1 bilhão de visualizações no YouTube e nas plataformas de streaming. No Brasil, Recairei é mais popular que Blinding Lights.

Pisadinha

Basta você me ligar, também dos Barões e Você tem meu WhatsApp, de Tarcísio do Acordeon, são músicas que ajudaram a colocar ainda mais em evidência esse ritmo tipicamente nordestino, que é a pisadinha. Mas a ampliação do ritmo vem de anos de história, se desenvolvendo desde 2004 como uma variação mais simples do forró, feita com teclado (com ritmo e acompanhamento automático) e voz, apenas. Como um ritmo, que surge a partir de uma certa precariedade, que seria até bondade chamar de ‘minimalismo’, consegue fazer com que artistas que, parecem vindos direto de um baile de churrascaria ou do bar da esquina, faturem milhões de reais e alcancem o topo? Provavelmente um misto de oportunidade com circunstância.

Este colunista, que já viveu por quase 1 ano no nordeste, em Campina Grande, João Pessoa e Recife, sabe o quanto a estética das músicas feitas só com acompanhamento de um teclado arranjador, tipo os Yamaha PSR, é super comum e aceita por toda aquela região. Pra onde quer que se olhe, sempre tem alguém em um bar ou restaurante com um teclado tocando e cantando. O nordeste é um celeiro de artistas que precisam todos os dias driblar as dificuldades. Logo, uma música que se faz com um teclado apenas e que não exige grande virtuosismo vem bem a calhar.

O baiano Nelson Nascimento foi um dos pioneiros da pisadinha. O artista lançou o álbum O rei da pisadinha Volume 1 em 2004, que foi gravado na casa de um amigo e distribuído de forma igualmente caseira. Contemporâneos a ele estavam outros nomes como Forró Boys, Zezo, Frank Aguiar e Lairton e seus Teclados. Então, aos poucos a pisadinha foi se espalhando, quando Nelson foi para São Paulo, começou a tocar em casas de shows e eventos nordestinos e aí a música Fazer beber foi cantada por Gusttavo Lima e caiu nas graças de Neymar: sucesso garantido.

De Nelson Nascimento a Barões da Pisadinha

Então de lá para cá se passaram 16 anos, até que o ritmo estourasse em todo o país e a banda Barões da Pisadinha se consolidasse como representante máxima do estilo. Mas o mais fascinante é como as letras falam ao coração das pessoas e retratam situações, banais ou não, que muitos vivem e, por isso, se identificam. Letras divertidas, refrões chiclete, temáticas e sonoridades mais cotidianas e “pé no chão”, criaram empatia e aproximaram o “ouvinte comum” do gênero.

Com um olhar livre de preconceitos (afinal, preconceito musical faz muito mal), e sem a necessidade de recorrer ao pai da psicanálise, Sigmund Freud, a pisadinha é, por excelência, um ritmo feito das massas para as massas, sem grandes pretensões filosóficas, e que leva o ouvinte a pensar no amor perdido, na conquista ideal ou nos copos a mais com os amigos, sem a menor intenção de doutrinar, protestar ou formar juízo de valor. É para todos, como o seu antecessor, o forró (for all). Então pegue um copo e venha curtir a sua sofrência, investir no jogo da conquista ou tentar se dar bem na balada. Tudo muito mundano, carnal, pragmático e comum, sem o delírio da vã filosofia humana. se a pisadinha fosse um lema clássico, seria apenas Carpe Diem.

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