A equipe de roteiristas do humorístico ‘Vai Que Cola’ se revoltou com algumas atitudes do elenco que acabaram resultando na demissão de um membro da equipe recentemente, e hoje, segunda-feira (22), se reuniram e enviaram uma carta aberta à toda a equipe envolvida na produção, entre elas: Diretoria, elenco e produção.
Desde que André Gabeh foi demitido da atração, os colegas de equipe do escritor não se conformaram com o desligamento do colega e passaram a identificar uma vulnerabilidade com o emprego.
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A carta aberta, vem confirmar o que a coluna Thiago Sodré divulgou com exclusividade, expondo os motivos da demissão do roteirista e o envolvimento de parte do elenco, que não estaria satisfeito por ter o texto escrito por um ex-BBB, no caso, Samantha Schmutiz e Cacau Protázio que reclamavam constantemente do texto do autor.
Na carta em questão enviada a direção da emissora e a todos os profissionais envolvidos no humorístico, a equipe lamenta a saída de um colega comprometido com o trabalho e elogiado por quase toda a equipe. A carta ainda escancara a crise gerada entre elenco e redatores e a insegurança que foi instaurada após a demissão. A equipe solicita ainda providências urgentes para que todos possam trabalhar com segurança.
Veja a carta na integra:
Nós, roteiristas do programa “Vai Que Cola” – Temporada 11, escrevemos esta carta para
nos solidarizarmos com o roteirista André Gabeh, demitido arbitrariamente a pedido de
parte do elenco da série.
Queremos deixar claro que somos uma equipe que tem amor pelo “Vai que Cola” e por
cada profissional que faz essa série acontecer, por isso, esta é uma carta com afeto, sem
intenção de gerar conflito.
André Gabeh é um artista sério, competente, comprometido e que vinha sendo muito
elogiado tecnicamente por toda a equipe, produtora Fábrica, Multishow e Globo, ao
longo da temporada. São mais de 50 profissionais que acompanham o processo de
criação e leitura dos textos. Os roteiros de André Gabeh sempre foram muito elogiados
e aprovados com mérito, além de muitas vezes servirem como referência para nós.
André Gabeh é também um escritor preto, gay e periférico, o que é importante ressaltar
dentro de um contexto em que “a corda sempre arrebenta do lado mais frágil”.
Perdemos um roteirista brilhante, um dos poucos suburbanos escrevendo para
personagens suburbanos.
A implicância ou perseguição, por parte do elenco, com o autor não é de hoje. Desde o
ano passado, André Gabeh vem sendo melindrado e diminuído. E mesmo assim, seguia
exercendo seu trabalho com empenho e competência.
Recebemos com consternação a notícia de que ele havia sido demitido faltando menos
de um mês para encerrarmos a sala de roteiro. Nosso trabalho é feito em equipe e uma
perda dessas, além de injusta, pois o mesmo nunca deixou de cumprir prazos e realizar
seu trabalho com excelência, abala a todos. Somos profissionais, mas antes de tudo,
seres humanos.
Como artistas, respeitamos todos os talentos que fazem do “Vai que Cola” o maior
programa de humor do país. Infelizmente o respeito não é recíproco.
A maioria dos roteiristas deste programa trabalha há anos no mercado, e já fez parte
deste e de outros projetos muito bem-sucedidos e premiados. Temos certeza de que
entregamos roteiros com qualidade, mesmo levando em conta as difíceis exigências
impostas para a feitura das sinopses, escaletas e roteiros, tais como: prazos apertados,
ausência de personagens importantes, indisponibilidade do elenco para gravação etc.
Atualmente a atmosfera de trabalho é de apreensão e medo, pois os roteiros recebem
diversas críticas infundadas e abstratas. Críticas estas que dizem respeito, na maior
parte dos casos, aos gostos pessoais e não à técnica e podem ter consequências
desastrosas como a recente demissão do roteirista André Gabeh.
Gostaríamos de deixar bem claro que não somos contra as críticas construtivas que são
sempre acatadas, sem discussão, quando é o caso do enriquecimento e melhoria do
resultado final do roteiro. Acreditamos também que é muito saudável ter uma troca
com os atores, desde que essa troca seja respeitosa de ambos os lados. Sempre
estivemos abertos a fazer adaptações de maneira que cada ator ou atriz brilhe em cena
e fique feliz com seu personagem. Contudo, o que vem acontecendo é uma violência
psicológica.
A falta de respeito com o programa e com os roteiristas pode ser exemplificada com o
fato de que parte do elenco não lê o texto antecipadamente, e não lê o roteiro em sua
integridade (apenas as falas de seus próprios personagens), o que naturalmente dificulta
o entendimento geral da trama de cada episódio.
Pensamos que escrever um programa de comédia deve ser prazeroso, afinal, estamos
levando alegria para milhões de brasileiros. Em sua maioria, trabalhadores (como André
Gabeh) que fazem este país girar, que precisam rir e se distrair de suas duras realidades.
Amamos escrever para o “Vai que Cola”, mas prezamos muito pela nossa saúde mental
e abrir mão dela é inegociável.
Esperamos mudanças para que o “Vai que Cola” se torne um lugar saudável e acolhedor
não apenas para nós, mas para todos os roteiristas que virão depois e para todos os
profissionais envolvidos nessa engrenagem.
Não queremos de forma alguma que este momento seja interpretado como uma
“guerra de bastidores entre elenco e roteiristas”, mas sim como um pedido de paz e
respeito.
Gostaríamos também de ressaltar que existem pessoas no elenco que nada têm a ver
com isso, cumprindo suas funções com brilhantismo, profissionalismo e cordialidade.
Aguardamos retorno com uma proposta de ação concreta.
Atenciosamente,
Equipe Roteiro “Vai que Cola” – 2023.