De Lisa Cohen da CNN: Num beco pequeno e estreito no histórico bairro de Stone Town, na ilha africana de Zanzibar, um edifício antigo atrai visitantes. Fotografias antigas e desbotadas aparecem no lado de fora na porta. Dentro, uma galeria com retratos brilhantes e recortes de jornais de décadas passadas abre caminho para a peça central: um piano preto com uma história pra lá de interessante.
Um jovem zanzibense tocou aquele piano. Seu nome era Farrokh Bulsara, mas você o conhece melhor como Freddie Mercury. O icônico líder da banda de rock britânica Queen nasceu em Zanzibar, uma ilha costa da Tanzânia. Este museu é dedicado em memória de sua vida e obra.
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Funcionando como um caldeirão de culturas e tradições, Zanzibar é conhecida por seu magnífico pôr do sol e também pelas especiarias. O local acabou ficando popular como destino turístico depois que Stone Town, região mais antiga do local, acabou sendo declarada Patrimônio Mundial da UNESCO em 2000.
Com “Bohemian Rhapsody”, o longa-metragem de 2018, que rendeu um Oscar a Rami Malek, por sua interpretação de Freddie Mercury, a popularidade do falecido astro do rock também entrou em ascensão em Zanzibar.
O empresário Javed Jafferji é um dos proprietários do Freddie Mercury Museum. Jafferji era um estudante universitário em Londres na década de 80, quando se tornou fã da banda. “Naquela época, poucas pessoas sabiam que [Mercury] era de Zanzibar”, revelou o administrador.
Até hoje, inúmeras pessoas não conhecem as raízes zanzibenses do músico, diz Jafferji. Sua missão portanto é colocar Stone Town na rota cronológica do ícone do pop e rock.
Farrokh Bulsara, que depois se tornaria Freddie Mercury, nasceu em 5 de setembro de 1946, em Stone Town. A família Bulsara eram parsis da Índia – seguidores do zoroastrismo, uma antiga religião persa. Acredita-se que o jovem Farrokh teria começado a cantar no templo zoroastriano da cidade ainda quando criança.
Naquela época, a comunidade parsi possuía cerca de 300 membros em Zanzibar. Atualmente, poucos grupos parsis vivem no local, e o templo segue abandonado há bastante tempo.
Freddie viveu a maior parte da infância em Zanzibar e estudou num internato na Índia. No começo dos anos 1960, sua família se mudou para o Reino Unido. Menos de uma década depois, ainda jovem formou o Queen e alcançou o status de lenda da música. O astro do rock nunca voltaria ao local de nascimento.
Em 2002, Jafferji resolveu abrir uma pequena loja de lembranças chamada The Mercury House, em uma antiga casa da família Bulsara. “Percebi que há história por trás desse prédio”, declarou. Cerca de duas décadas depois, com o lançamento do filme “Bohemian Rhapsody”, Jafferji se inspirou a pensar grande. Após uma visita surpresa a Zanzibar feita pelo lendário guitarrista do Queen, Brian May, o acordo para o projeto acabou sendo selado. “Brian May tirou uma foto do lado de fora do prédio e postou em sua página do Instagram”, contou Jafferji.
O empresário e o amigo Andrea Boero, também fãs de Freddie Mercury, fizeram uma parceria com a Queen Productions Ltd., no Reino Unido, para transformar a Mercury House num museu, contando os primeiros anos de Mercury em Zanzibar. O local estreou em 24 de novembro de 2019, no 28º aniversário da morte do astro.
Porém, em março, com a eclosão da pandemia de coronavírus, o museu teve que fechar as portas. A pandemia também acabou forçando o adiamento do lançamento do Mercury Tour, um passeio a pé guiado por pontos marcantes em Stone Town onde Mercury teria passado sua infância.
Apesar do problema pontual, Jafferji e sua equipe estão mais otimistas com o futuro. “Queremos realmente lembrar de Freddie Mercury em Zanzibar e na Tanzânia em geral”, afirma Anam Adnan, a gerente do museu. “Queremos que as pessoas o celebrem e o amem.”
Mas homenagear Freddie Mercury em Zanzibar é um assunto delicado. Caso o astro tivesse voltado para lá mais tarde, provavelmente lutaria para ser aceito numa comunidade conservadora muçulmana, onde a homossexualidade é um ato ilegal.
“Não damos muita atenção a sua vida pessoal, porque esse é um tópico polêmico para os zanzibaritas”, explicou Adnan. Segundo ela, o museu se concentra na música do líder do Queen e também em sua arte. “É o maior tributo que nós, como zanzibaritas, podemos fazer a ele”. (Texto traduzido da CNN).