(POR GABRIEL VAQUER)
Acho que todos reconhecem o quanto o funk brasileiro quebrou preconceitos e paradigmas nos últimos tempos. Depois do sertanejo, foi o ritmo que mais bombou nas rádios e nas paradas de streaming. Além disso, virou uma ótima vertente do pop nacional, tão judiado nos últimos anos. Mas parece que as grandes gravadoras ainda tem o seu preconceito com o ritmo vindo das favelas do Rio de Janeiro.
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Quem já acompanha a cena funk de algum tempo, percebe que alguns artistas que se destacam bastante acabam mudando muito quando assinam com uma grande gravadora. E o que assina essa mudança é a assinatura do nome artístico. Muitos deles deixam de carregar a cunha de MC (mestre de cerimônia, muito famosa no funk).
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E não são poucos os exemplos. Anitta quando assinou com a Warner tirou o MC. Mais recentemente, os ex-MCs Kevinho e Pocahontas, assim que assinaram com a Warner Music, também tiraram o MC de suas alcunhas. O caso mais preocupante nesse sentido é o de Pocahontas, que tem feito um trabalho muito bom nos últimos tempos, criando uma tendência no funk feminino ao usar o 150 BPM (batidas por minuto) em todos os seus hits.
Por algum motivo, a Warner achou que é bom negócio fazer a Pocahontas assinar como POCAH a partir daqui. E a grafia é assim mesmo: caixa alta, em todas as letras. O curioso é que dois clipes já feitos com a gestão Warner na carreira de Pocahontas já foram assinados com o seu nome original.
Nas últimas semanas, a Warner mudou toda a grafia dos clipes nas suas plataformas originais e até o nome de Pocahontas nas redes sociais. Ou seja, ela deixou de lado o que construiu até aqui e vai começar do zero de novo. Talvez porque a Warner acredita em dois pontos simples.
O primeiro que o termo MC limita muito ao funk. Quem é MC não pode ir para o pop, para o sertanejo ou outras vertentes da música. Anitta é a prova disso. Depois que deixou sua alcunha de MC, virou uma artista bem pop, mas que bebe muito da fonte do funk quando precisa. O segundo é um claro preconceito com o termo MC. Pra muito executivo, o funk ainda é marginalizado. A sociedade não aceita alguém a longo prazo que tenha uma marca tão ligada ao funk.
Creio que nao deve ser o caso de Pocahontas daqui pra frente. O forte dela é o funk e em entrevistas a nova “POCAH” já mostrou que não pretende abrir mão de suas raízes. E na era da internet, mudar tudo sem maiores explicações assim, deixa claro que existe uma rejeição da empresa ao funk mais próximo das comunidades. Uma pena, Warner. Uma pena, gravadoras.