O apresentador do Fofoca Aí e jornalista Gabriel Perline, editor do Notícias na TV, publicou em seu perfil no Twitter uma informação, onde sugere que “uma cantora ‘poderosa’ ficou careca há dois meses”. Sem citar o nome de Anitta, mas usando o adjetivo “poderosa”, o profissional acrescentou uma mensagem apontando que o corte de cabelo não teria acontecido por razões médicas, mas por causa de religião.
Porém, por meio de nota, a artista negou que tenha feito isso: “Devido às especulações na imprensa de que Anitta raspou seu cabelo para cumprir compromissos religiosos, viemos a público afirmar que a informação não é verdadeira“.
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“A cantora, praticante do Candomblé, é uma ‘Ekedi’ em sua religião. As Ekedis são suspensas para a iniciação, não precisando raspar a cabeça em sua preparação para servir aos Orixás“, explicou.
E continuou: “Anitta repudia qualquer tipo de intolerância religiosa, seja ela qual for, e acredita que tais especulações retratam um Brasil ainda repleto de discriminação e preconceito religioso“.
“Mais uma vez a bpmcom lamenta que a imprensa não cumpra sua obrigação para com a verdade e apure os fatos antes de publicá-los“, finalizou.
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Com isso, no intuito de entender quem é a Ekedi e o que sua figura representa para o candomblé, a colunista Camila Cetrone do iG Delas conversou com Nogueira e com Sônia Doin, que é Makota (o nome de Ekedi na vertente de Nação Bantu, da Angola) Kenzalejy, da casa Unzó kiloatala.
Para entender qual a função da Ekedi em um terreiro e para a sociedade, Nogueira considera importante entender que o candomblé é uma estrutura cultural e religiosa de origem africana que se organiza por meio de postos hierárquicos. Essa estrutura é organizada como uma família africana, onde cada pessoa é definida a partir da escolha dos orixás.
“Elas são ‘o braço direito’ do pai ou mãe de santo e aprendem os fundamentos para o funcionamento das liturgias, da administração e do funcionamento da Casa, além das funções sagradas”, conta Sônia. Nogueira acrescenta que elas são a segunda mãe depois da mãe de santo.
Além de zelar pela casa, elas são ainda coorientadoras e coguardiãs dos saberes ancestrais africanos. “Elas zelam pelas yabás, pelos quartos e objetos sagrados, cuidam das roupas e do corpo em transe tomado pelos orixás no momento da dança”, afirma o professor. Essas mulheres não recebem a manifestação dos orixás e são chamadas de “a mulher que nunca dorme”.
Nogueira explica que a Ekedi é escolhida por uma ancestralidade, durante uma festa pública aos orixás ou em rituais internos. “Dizemos, inclusive, que elas são apontadas”, explica.
“Existe o primeiro momento em que elas são suspensas e ela já começa a trilhar o caminho da aprendizagem para ser essa guia ancestral ao lado das lideranças da comunidade tradicional do terreiro. Depois vem a confirmação por meio dos oráculos divinatórios, o ori e o orobô [frutos usados nos rituais] ou diretamente no jogo de búzios, que apontam a escolha ancestral”, detalha o professor.
Sônia ressalta ainda que o rito de confirmação apresenta um toque sagrado dos atabaques, em que consegue-se apontar as mulheres que não recebem a manifestação dos orixás.
Depois ocorre a iniciação, a que Nogueira se refere como “um conjunto sofisticado de rituais para a cura da dor de corpo, mente, saúde integral” e ainda para “a negação do colonialismo, do adoecimento, das dores e doenças emocionais e espirituais”. As iniciações são secretas e não podem ter elementos revelados.
Nogueira afirma que a importância da Ekedi vai além do terreiro, mas torna-a uma autoridade civilizatória. Por esse motivo, o comprometimento dela deve ser total.
“Ela pode seguir sua vida, seguir sua carreira, ter sua independência. Mas ela tem o privilégio de ser escolhida de uma forma ancestral poderosa, por uma história do continente africano como verso do mundo, uma história ressignificada no Brasil a partir dos povos e comunidades tradicionais de terreiro”, explica Nogueira.