POR ANDRÉ JÚNIOR
Fran Gil acaba de estrear seu primeiro disco solo. Intitulado “Raíz”, o álbum traz duetos com Caetano Veloso, Gilberto Gil, Ruxell e Passopusso. Para quem não o conhece, Francisco (ou Fran, como prefere ser chamado) é filho de Preta, e o mesmo já fez parte de Os Gilsons – banda composta por Fran, José Gil e João Gil, netos e filho do mestre Gilberto Gil, respectivamente.
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Agora na estrada sozinho com a sua voz e violão com “Raíz”, o jovem fala sobre a sua espiritualidade e paixões como nunca antes. Em entrevista ao Observatório de Música, Fran nos conta o por que de não ter cantada com a mamãe Preta Gil ainda e fala sobre a importância dos Orixás em sua vida. Confira:
Fran, você faz música há um bom tempo mas parece que desta vez de fato se encontrou. O que fizera antes e o que faz hoje são trabalhos muito diferentes um do outro?
São muito diferentes mas todos eles culminam nesse momento. São projetos que fazem parte da minha construção como artista. Hoje, principalmente os Gilsons, já não é mais um paralelo, é uma vertente que também está presente um pouco nesse álbum. Mas em “Raiz” está realmente a minha verdade, em minhas composições, o assunto que eu estou abordando, a minha espiritualidade, o meu próprio autoconhecimento. Esse é um momento de descoberta, do despertar artístico do meu ser.
Existiu alguma cobrança por parte de sua família para que você vivesse de música ou em qual tipo de som você deveria fazer?
A coisa mais interessante que a minha família sempre teve é o respeito em relação à individualidade de cada um, no incentivo de cada um seguir os seus próprios passos. Nunca houve essa coisa de ter que tocar determinado som ou de ser ensinado a algo específico. Sempre foram relações baseadas em uma posição de referência, de beber da fonte de quem está próximo da gente, sempre de forma natural.
O album “Raíz” é repleto de letras que falam sobre os Orixás, como foi o processo de criação deste album? Você teve de pedir agô aos seus guias?
A primeira coisa que eu fiz assim que eu compus as canções foi levar para o meu terreiro e pedir autorização para os meus orixás. Algumas músicas do álbum foram canções que surgiram de uma forma completamente mágica, uma delas “coração tambor”, foi quase que psicografada, foi uma canção que simplesmente saiu e eu fui realmente compreendê-la num segundo momento. O “Epa Babá”, a saudação à Oxalá fez todo sentido naquele momento, porque foi uma canção que nasceu da necessidade de falar de ancestralidade no sentido mais primordial e primário.
Além do atabaque, em faixas como “Eu Reparo”, observamos batidas urbans, de quem veio a ideia?
Eu sempre fui muito fã de canções urbanas e principalmente da música negra americana, é uma coisa que faz parte do meu leque de referências. É o que eu costumo escutar.
Em meu disco, “eu reparo” abre para um momento que é mais uma das vertentes que eu tenho dentro de mim, da minha musicalidade, da sonoridade que eu quis trazer para esse trabalho. É uma canção que faz essa ponte entre o voz e violão bem suave com teclado por trás, numa onda bem reverberante e entra em uma pegada mais RnB. Em seguida, “bateu forte” vem com um RnB também bastante convicto.
O que você gosta de ouvir e quem você usa como fonte de inspiração?
Os artistas que eu tenho mais escutado no momento tem sido Anderson Paak, Gilberto Gil, Daniel Caesar e Baiana System. Tenho muitas referências misturadas, fruto de tudo que eu vivo na Bahia, os ritmos afro-brasileiros o Afoxé e o Ijexá. E o meu álbum tem essa proposta também, eu começo realmente tocando na minha raiz, do meu ponto de partida e chego no final do disco em “afro-futurista”, com meu avô, que é mesmo uma sintetização daquilo tudo que foi dito nas outras canções.
Raíz tem Gilberto e Caetano, por que não a mamãe Preta Gil, Fran? Ela não ficou com ciumes?
Na verdade a minha mãe faz parte desse projeto, ela é minha empresária e sócia da gravadora que lancei o disco, a BlackTape e do escritório que eu faço parte, a LIGA Entretenimento. A ideia de gravarmos o clipe de “coração tambor” na África partiu dela também. E contar com o Caetano e com o meu avô no disco é justamente ter essa ancestralidade em primeira instância. São minhas referências superiores, minha ancestralidade mais latente. Contar com eles é realmente um privilégio sem tamanho, foi uma troca muito rica.