Médico especialista esclarece que, com abordagem precisa, é possível evitar que pacientes tornar a ganhar peso após perda acompanhada de dispositivo gástrico
A cirurgia bariátrica é amplamente reconhecida como uma intervenção eficaz para a perda de peso em pacientes com obesidade severa. No entanto, um dos desafios mais significativos enfrentados por esses pacientes é o reganho de peso ao longo do tempo. Ao contrário do que muitos podem acreditar, esse reganho de peso não é imediato, mas sim um processo gradual que requer cuidados e vigilância constantes.
Especialistas em saúde apontam que, apesar do sucesso inicial da cirurgia, fatores comportamentais, metabólicos e psicológicos podem contribuir para a recuperação do peso perdido. É fundamental entender que a cirurgia não é uma solução mágica, mas uma ferramenta que precisa ser acompanhada de mudanças permanentes no estilo de vida.
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Estudos indicam que uma porcentagem significativa de pacientes que perdem peso com o procedimento experimenta um reganho dessa massa. Segundo dados do Ministério da Saúde, aproximadamente 50% dos pacientes recuperam parte do peso perdido em até dois anos. Esse fenômeno é atribuído a diversos fatores, incluindo a falta de mudanças sustentáveis no estilo de vida e a adaptação do corpo à redução temporária do volume gástrico.
“É cientificamente comprovado que aproximadamente 30% dos pacientes que perdem peso após a cirurgia voltam a ganhar peso em um período de cinco anos, evidenciando a necessidade de estratégias complementares para manter a perda de peso a longo prazo,” explica o cirurgião geral e endoscopista Mauro Jácome, especialista no tratamento de obesidade com balão intragástrico e em endosutura.
Além disso, a reeducação alimentar e a prática regular de atividades físicas são essenciais para manter os resultados obtidos com a cirurgia. Estudos mostram que indivíduos que seguem essas recomendações têm maiores chances de manter a perda de peso a longo prazo.
Outro ponto crucial é o monitoramento psicológico. A obesidade muitas vezes está associada a fatores emocionais que, se não tratados adequadamente, podem levar ao retorno dos antigos hábitos alimentares. Nesse contexto, a terapia cognitivo-comportamental pode ser uma aliada importante.
Como combater o reganho de peso pós-bariátrica?
Em contrapartida, há o tratamento com plasma de argônio que, segundo Mauro Jácome, consiste em uma técnica endoscópica que utiliza gás argônio para criar pequenas lesões na mucosa gástrica, promovendo a cicatrização e reduzindo a capacidade do estômago de se expandir, em pacientes que fizeram bariátrica utilizando o método bypass. “Estudos clínicos mostram que esta abordagem pode ajudar a manter a perda de peso alcançada com a bariátrica. Uma pesquisa publicada na revista Obesity Surgery indicou que pacientes tratados com plasma de argônio mantiveram uma perda de peso média de 15% após um ano do procedimento”, completa o especialista.
Ainda de acordo com o médico, existe também a endosutura, indicada tanto para pacientes que utilizaram do método by-pass quanto do método sleev. “Este trata-se de outra técnica endoscópica que envolve a colocação de suturas no estômago para reduzir seu volume e limitar a capacidade de ingestão alimentar. Este procedimento mimetiza alguns dos efeitos das cirurgias bariátricas mais invasivas, como a gastrectomia vertical. De acordo com um estudo realizado pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC-FMUSP), pacientes submetidos à endosutura apresentaram uma manutenção da perda de peso de cerca de 20% após um ano do tratamento”, acrescenta Mauro Jácome.
No fundo, o reganho de peso após a bariátrica é um desafio significativo. “Combinadas com mudanças sustentáveis no estilo de vida e apoio contínuo, essas técnicas podem oferecer uma solução eficaz para pacientes que lutam contra a obesidade. A colaboração entre órgãos de saúde, profissionais médicos e pacientes é essencial para enfrentar este desafio e promover uma vida mais saudável para todos”, finaliza o médico.
Obesidade pela OMS
De volta aos dados, a Organização Mundial da Saúde (OMS) alerta que a obesidade é um dos maiores problemas de saúde pública no mundo, com mais de 650 milhões de adultos obesos em 2016. No Brasil, o Ministério da Saúde estima que cerca de 20% da população adulta seja obesa, com índices crescentes a cada ano. A OMS reconhece a obesidade como uma doença crônica que requer uma abordagem multifacetada para tratamento e prevenção. A organização recomenda intervenções que incluam mudanças no estilo de vida, apoio psicológico e, em alguns casos, intervenções médicas ou cirúrgicas.