MC Carol desabafa sobre racismo: “Faz você acreditar que você é menos”

Publicado em 20/06/2020
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MC Carol usou seu Facebook para fazer um desabafo nesta quinta-feira (18). A funkeira foi relembrando vários momentos de sua vida onde se sentiu discriminada e que sofreu por ser quem é.

“O racismo é assim: Ele te envergonha. Te coloca pra baixo. Faz você acreditar que você é muito menos que uma pessoa branca. Que você é feia, suja, inferior. Faz você entender que você precisa de pessoas brancas pra se enturmar etc… Faz você ficar contra os seus, não se relacionar principalmente amorosamente com os seus. Te coloca medo”, contou em um dos trechos. 

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Carol ainda destacou o quanto o preconceito a marcou. “O racismo te causa traumas incuráveis, eu até hoje fico constrangida pra entrar em lojas e principalmente restaurantes de luxo, mesmo tendo dinheiro pra entrar, de verdade mesmo. Quem me conhece sabe disso! O racismo te pega em ocasiões que você menos espera e na maioria das vezes, VOCÊ TRAVA.”

Leia na íntegra: 

“Eu fiz algumas postagens falando sobre o racismo na infância, que sofri no meu antigo colégio, vou contar uma outra parte. Eu fiquei nesse colégio até meus 12 anos, meus avós decidiram sair do morro, eles queriam me colocar num colégio particular eu chorei tanto… eu passei na porta e só tinham crianças brancas, eu ameacei a fugir de casa, se meu avô fizesse isso comigo!

Então ele me colocou em um público achávamos que eu sofreria menos, ok. Cheguei na turma e nem a professora falava comigo, foram meses assim, eu só tinha uma amiga chamada Mirins, mas nem sempre ela estava por perto. Foi o ano todo assim, eu acordada às 4:30h da manhã saia de casa 5:30h e chegava no colégio 6:30h horário de entrada. Não tinha ônibus, eu morava em Vendas das Pedras. Quando chovia tinha que colocar sacola no pé, [havia] muita lama era horrível.

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Aí eu chegava no colégio e era desprezada, as pessoas faziam piada com minha roupa, riam do meu cabelo, do meu corpo, falavam coisas baixinho com um olhar de nojo. Eu tinha vergonha até de comer na escola ou ficar no pátio. Eu me escondia todos os dias na biblioteca.

Enfim… todo dia era uma luta diária, eu passava por tudo isso, pq eu queria ser alguém, dar uma vida melhor pros meus bisavós, retribuir o que nunca foi obrigação deles. Eu tirava 10 em tudo, eu era mega inteligente, comunicativa, engraçada, pra cima. Até q um dia eu cansei de ficar sozinha e fui até uma mina preta da minha sala e perguntei a ela se eu poderia sentar junto com ela (Eu juro por tudo que é mais sagrado) eu lembro como se fosse hoje, o nome dela era Verônica, ela era uma negra retinta, ela me respondeu: “Eu não sento com negros, não tenho amizade com negros, eu odeio negro”. Eu pensei que ela estava brincando e, ela repetiu friamente. Aí eu vi q era verdade msm! Falei: “Como assim cara? Mas você é negra, de família de negros igual a mim.” Ela me respondeu que tinha nojo de negros, da pele dela etc…” Mano isso acabou comigo, eu só queria sumir daquele lugar! Pedi diversas vezes, pro meu avô me tirar dali e tentar outro colégio mas meu avô sabia que não tinha como fugir, eu ia passar por isso a minha vida inteira.

Passou uns meses e uma das meninas popular da turma, se virou mexeu no meu caderno viu uma foto de uns amigos negros q tinha colado no meu caderno ela chamou meus amigos de “bando macacos” ela falou num tom alto a turma toda ouviu riu aí começaram a bater na mesa e fazer som de macacos, eu me levantei fui até a professora e perguntei: “professora ela chamou meus amigos e eu de macacos” a professora me respondeu olhando pra alguma coisa q ela estava escrevendo q não se metia em briga de alunos, com essa resposta da professora aí que os alunos continuaram eu fui em direção a menina, puxei o cabelo dela pra trás em seguida dei c tudo na mesa dela, o nariz dele começou a sangrar mt, todos saíram correndo, eu fui pra casa rápido cheguei assustada chorando arrumei minhas coisas culpei meu avô e voltei pro morro.

Fui morar na casa da minha tia, me colocaram num colégio dentro da comunidade ‘Maria Pereira das Neves’ ali eu pude ser eu, ser engraçada, falar, me expressar, eu amava apresentar trabalho de escola eu fui mt mt mt feliz. Aí eu pensei q nunca mais ia sofrer racismo.

Aí eu comecei a cantar funk, fui chamada para entrevista do Reality Lucky Ladies, fui selecionada, ok. Fomos para Copacabana ficamos lá por 2 meses, as gravações era internas e externas. Um dia a produção me mandou ir para um ateliê para ajustar um vestido. Deixaram uma gringa caucasiano para me levar até Ipanema, no ateliê. Na esquina do apartamento tinha um bobs como não dava tempo de almoçar pedi um lanche, pedi pro pessoal só colocar hambúrguer e batata pra viagem, sem bebida pq eu ia entrar no táxi, q ficava ali na porta tbm. Quando descemos o apartamento, eu pedi pra gringa ir pedindo o táxi, enquanto eu pegava o lanche, ela estava me aguardando dentro do táxi, eu entrei no táxi c o pacote fechado e, dei boa tarde, (toda vez q falo sobre isso meus olhos enchem de lágrima eu não estava preparada pra passar por isso! Assim… comparado a tantas maldades, q a gente vê, no mundo, isso não é nada, mas isso me dói até hoje, de verdade e, é uma coisa que eu acho q eu nunca vou esquecer) Na hora q entrei e dei ‘boa tarde’ o taxista (também caucasiano) olhou no retrovisor e começou a gritar comigo, mandando eu sair do táxi dele, ele foi muito agressivo, ele nem esperou eu descer ele já foi abrindo a porta de trás parecia que ele ia me agredir real. A gringa sem entender o q estava acontecendo, nem eu estava entendo na verdade! Perguntei: Calma moço, o q q ta acontecendo? Calma eu estou com ela! É por causa do lanche? Eu não vou comer no seu carro calma. E, ele só gritava que era pra eu sair q ele não iria mais pra Ipanema. Aos poucos eu fui percebendo q não se tratava do lanche ele não viu o pacote, se tratava da minha cor!

A gringa ficou me perguntando completamente assustava o q tava acontecendo e eu só consegui responder: “Deixa, tá tudo bem. Não foi nada. Tentei disfarçar minha vergonha e minha vontade de chorar e falei: “Vamos pedir outro táxi amore? Vc pede por mim?”.

O racismo é assim: Ele te envergonha. Te coloca pra baixo. Faz você acreditar que você é mt menos q uma pessoa branca. Que vc é feia, suja, inferior. Faz você entender que vc precisa de pessoas brancas pra se enturmar etc… faz vc ficar contra os seus, não se relacionar principalmente amorosamente com os seus. Te colocar medo. Pavor de andar à noite de roupas escuras principalmente num grupo de pessoas pretas. Deixa você apreensivo ficando perto da bolsa de alguém ou na casa de algum branco. Toda vez q vejo um táxi eu lembro desse dia. Eu não quero, mas eu lembro. (Mt pessoas brancas, acham q é vitimismo ou mentira nossa mesmo, por parte eu entendo, pq é um absurdo você ser maltratado humilharam agredido e morto pela cor da sua pele. Se eu fosse branca e morasse em Copa, eu dificilmente acreditaria! Assim como é difícil de acreditar que um pai tem coragem de estuprar sua própria filha sabe…)

O racismo te causa traumas incuráveis, eu até hoje fico constrangida pra entrar em lojas e principalmente restaurantes de luxo, mesmo tendo dinheiro pra entrar, de verdade mesmo. Quem me conhece sabe disso! O racismo te pega em ocasiões que você menos espera e na maioria das vezes, VOCÊ TRAVA. Você fica tão chocado(a) que vc paralisa, a lágrima vem e, você não consegue falar nada! Mas a gente tem que falar, a gente precisa falar! A gente precisa expor e denunciar esses racistas! Temos q se fortalecer, se preparar e preparar nossas crianças pretas. Na real eu não sei como vou falar pra minha filha(o) que ela vai sofrer, ser excluída, humilhada e talvez morta por conta da cor da pele dela e, que a vida pra ela vai ser 100 vezes pior e mais pesada, que ela não vai poder ter a liberdade de uma criança branca. A gente não pode abaixar a guardar pra esses animais, porque o racismo nunca descansa! 

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