Estima-se que mais de um bilhão de pessoas tenham assistido à cerimónia de abertura dos Jogos Olímpicos deste ano, evento que deu início aos jogos de Paris. Com toques de Revolução Francesa, um banquete dionisíaco, can-can e muitas outras referências francesas, a cerimônia de quatro horas contou ainda com Lady Gaga e Céline Dion e foi um sucesso. Mas o que pouca gente sabe é que há mais de trinta anos, poderíamos ter contado uma história semelhante com o lendário vocalista do Queen, Freddie Mercury.
O seu espetacular dueto operático com Montserrat Caballé, Barcelona, foi tocado durante a cerimônia espanhola de abertura dos Jogos Olímpicos de 1992. Infelizmente, porém, Freddie não viveria mais tempo suficiente para interpretar a sua canção. Freddie Mercury era um admirador de longa data da ópera – o que é evidente quando se ouve qualquer uma das canções operáticas do Queen. A cantora Montserrat Caballé era também um dos seu ídolos musicais e por isso, o músico teve o maior choque da sua vida quando ela pediu para trabalhar com Freddie.
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“Ela telefonou há umas semanas e disse que adorava trabalhar comigo. Caí no chão. Pensei: “Meu Deus! Mas eu amava-a há anos”, confessou Freddie Mercury ainda em 1987 .“Fui a Barcelona num programa de televisão e disse que ela era a melhor cantora do mundo e que adoraria cantar com ela e ela deve ter visto.”
“É espetacular. Agora estou numa de ópera. Esqueça o rock ‘n’ roll. É um desafio tão grande, nunca pensei em escrever canções assim. Tenho a certeza que os críticos de ópera vão criticar, mas é um bom desafio nesta altura da vida.”
Caballé então lançou a Freddie o desafio de escrever uma canção sobre a sua cidade natal, e ele conseguiu. Naquele ano, nasceu “Barcelona”, escrita em conjunto com o compositor Mike Moran.
Mas os organizadores dos Jogos Olímpicos também tinham a canção na mira, uma vez que a competição histórica se iria realizar em Barcelona apenas quatro anos mais tarde. Logo a faixa foi oficialmente selecionada para ser a canção-tema dos Jogos Olímpicos de 1992.
Porém em 1990, Freddie sabia que a sua saúde estava a piorar, tendo contraído AIDS, e confidenciou detalhes sobre seu estado à Caballé. Posteriormente, a cantora revelou a conversa emocionante que tiveram: “Ele disse: ‘Não vou conseguir, não vou conseguir’. Estávamos no estúdio de gravação, a gravar umas coisas finais, que foi a última coisa que ele gravou, e ele disse-me: ‘Não consigo fazer a performance de Barcelona’. E eu parei completamente e disse: “Porquê?” Pensei que ele não queria. Era verdade que ele tinha perdido muito peso e se tinha deteriorado muito e ele disse: ‘Com a AIDS, já não consigo pensar em dois anos a partir de agora’.”
E apesar de Freddie Mercury ter realmente agarrado a oportunidade de trabalhar com sua heroína, os músicos não puderam apresentar a canção no palco para a qual estava destinada. Montserrat falou mais sobre a conversa dela e de Freddie noutra entrevista, acrescentando “Ele disse: ‘É meu dever contar-te isto’”. “E eu disse: ‘Não, não é um dever, mas estou muito grata por me teres contado, porque significa que tenho a tua amizade e isso é o mais importante para mim”.
Os dois criaram claramente uma ligação próxima, com a cantora soprano chegando a fazer uma gravação pessoal única só para Freddie. “Ele disse-me que gostaria de ter cantado a ária do Fantasma da Ópera e eu disse-lhe que a gravaria – e gravei-a no estúdio para ele.”
Infelizmente, Freddie morreu no ano anterior aos Jogos Olímpicos de 1992, e não pôde cantar “Barcelona” na capital espanhola. Os organizadores acabaram por mudar também o tema oficial dos jogos, para o dueto de Sarah Brightman e José Carreras “Amigos Para Siempre”, com música de Andrew Lloyd Webber.
No entanto, Montserrat Caballé interpretou “Barcelona” com uma série de cantores de ópera espanhóis, um momento de que Freddie se teria orgulhado imenso, apesar de não ter conseguido cantar.