A MARATONA DA FRESNO

Entrevista: Fresno comenta fim de semana agitado, com shows no Rio e em São Paulo

Último fim de semana da Fresno é marcado por dois shows históricos realizados em pouco mais de 12 horas; banda pretende fazer longa turnê com disco novo

Publicado em 30/05/2022
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Foram mais de dois anos enclausurados, muito tempo sem ensaiar, uma turnê cortada ao meio e várias incertezas. Agora, a Fresno só quer abraçar o que a retomada das atividades pode oferecer e sentir o calor do seu grande público. Impulsionados pelo disco Vou Ter Que Me Virar, lançado no fim do ano passado, a banda está em turnê por tempo indeterminado e fez dois belos shows neste fim de semana.

No sábado (28/05), Lucas Silveira (Guitarra e vocais), Thiago Guerra (Bateria, guitarra e vocais) e Vavo (Guitarra e vocais), se reencontraram com o público do Rio de Janeiro, que não assistia a um show da Fresno em solo carioca desde novembro de 2019. O local escolhido foi a Fundição Progresso, casa que abraçou a banda nos últimos anos e palco importante da história da música brasileira.

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No domingo (29/05), foi a vez do público paulista prestigiar, de forma gratuita, o grupo na Virada Cultural. As apresentações ocorreram em um espaço de menos de 12 horas, e a banda explicou para a coluna, em entrevista, como se preparou para essa gratificante e cansativa jornada de muito trabalho.

“A questão é que a gente está cada vez mais velho, é um fator que a gente não consegue controlar. Eu estou com dois filhos pequenos, isso faz com que eu me canse bastante, muitas vezes eu vou dormir muito tarde e tenho que acordar cedo. Eu tive que adaptar minha vida nos últimos anos para minimizar os danos ao máximo. E quando vi que a tour ia começar, fiquei na ansiedade, porque quando acabou a outra turnê (cancelada por conta do surgimento da pandemia de COVID-19), eu tinha dois anos a menos (de idade) do que eu tenho hoje”, disse Vavo, um dos fundadores da Fresno, ao lado de Lucas. “Com 22 anos de banda, a gente foi aprendendo a lidar com as coisas”, completou.

Para evitar imprevistos, os músicos explicaram que houve um planejamento especial, que permitiu um ‘bate e volta’ RJ X SP sem sustos: o staff do grupo, após o show na Fundição, tomou banho e se arrumou no próprio camarim. A banda foi para o hotel, bem próximo ao local do evento, onde os membros se prepararam para voltarem a São Paulo de ônibus. Ao chegarem na capital, todos já estavam prontos para mais um show, por volta das 13 horas de domingo na Virada Cultural, dividindo o line-up com as cantoras Céu e Pitty, no palco Butantã.

Além de explicar os cuidados com os horários estabelecidos e o tempo curto, Lucas explicou que o processo de voltar a ensaiar com frequência foi fundamental para que o corpo voltasse a assimilar o ‘ritmo de show’ e recuperasse, por exemplo, a memória muscular.

Um ponto que pode exemplificar o porquê da Fresno ter segurado um pouco mais o retorno aos palcos, além do máximo respeito às restrições pandêmicas, é o fato de que a banda preza por um show que transmita ao público a real experiência do que é a Fresno. Para isso, foi necessário aguardar um pouco mais, mesmo que a vontade se apresentar fosse grande.

“Durante a pandemia, quando começou a ter aqueles shows, tipo banda fazendo live em estúdio, drive-thru, etc, a gente, unanimemente, percebeu que isso não é a condição ideal de um show nosso. 50% do nosso show é o caldeirão, a ‘Bombonera’ (Referência ao estádio do Boca Jrs., clube argentino conhecido por uma torcida pulsante), a galera cantando muito alto, às vezes ‘batendo uma cabeça’ loucamente. O que existe é essa junção de banda, mais o nosso público. Então, a gente só foi fazer show quando isso foi possível. E isso cultivou no fã uma saudade muito grande”, explicou Lucas.

A fidelidade do público da Fresno e o sucesso de Vou ter Que Me Virar

A Fresno é uma banda com quase 23 anos de existência, que já passou por momentos bem distintos ao longo da carreira. Surgiu independente, na cena underground de Porto Alegre, alcançou público nacional através da internet, que ainda engatinhava no Brasil; assinou com uma grande gravadora e trabalhou ao lado de Rick Bonadio, um dos produtores mais conhecidos do país, voltou a ser independente e está de casa nova desde 2019, quando anunciou sua entrada em outra gravadora: a BMG, em um vínculo bem diferente do que era com a Arsenal/Universal Music.

Atualmente, o grupo desfruta de uma grande fase com o atual álbum, Vou Ter Que Me Virar. Impulsionados por outros fatores, como uma apresentação grandiosa no Lollapalooza Brasil deste ano, a Fresno vê, em seu retorno, uma adesão maior aos shows e um público sedento pela música que o grupo faz. Para Lucas Silveira, há uma mistura entre dois tipos de fãs: o novo fã de Fresno e aquele que caminhou por muitos anos com a banda, foi viver a vida adulta e suas responsabilidades, e está de volta, em outro momento.

Lucas Silveira no Lollapalooza Brasil 2022 (Camila Cara)

“Uma pessoa que tem 25 anos, provavelmente, não pegou aquele primeiro auge da banda, de 2006 a 2008. Tem esse público, mas, tem uma ‘maioria esmagadora’, que é um público que a gente ganhou há 15 anos atrás e, que, por circunstâncias da vida, parou de acompanhar a banda, foi trabalhar, ter filho, parou de ser adolescente, saca? E, hoje, está se reconectando com as músicas atuais da Fresno. O público não rejuvenesceu, ele ampliou”, disse o vocalista.

O Rio de braços abertos para a Fresno

Nos últimos anos, a Fresno fez uma série de shows marcantes na capital fluminense, sobretudo na Fundição Progresso, casa tradicional, localizada na Lapa, região central da cidade. O local comporta cerca de 5 mil pessoas e já foi palco para vários momentos especiais da banda, como a turnê de 15 anos, apresentada 2015, o lançamento do disco A Sinfonia de Tudo Que Há, em 2016, o Convicção Festival, em 2018, e o show da tour Sua Alegria Foi Cancelada, em 2019.

Antes da banda criar essa relação simbiótica com a icônica casa de shows, era muito comum que os fãs assistissem aos ‘bailes’ da Fresno em palcos menores pelo Rio, regiões mais afastadas do centro da cidade. Isso na época em que o grupo surfava na primeira grande onda de sucesso, no início dos anos 2000.

Os cariocas sempre receberam a Fresno com muito carinho e os shows sempre foram muito pulsantes, mas, agora, o grupo se habituou a pisar em um palco mais do que sagrado.

“Eu sinto que Fundição apostou na gente quando ‘botávamos’ 1 mil pessoas. A gente sempre teve o Rio como um público grande, que não era atendido de maneira ideal”, explicou o vocalista. A oportunidade de fazer da Fundição uma espécie de ‘point’ da Fresno no Rio, com shows marcados com muita antecedência, possibilita que pessoas de regiões mais distantes compareçam e sejam contempladas, como moradores da Zona Oeste, Baixada Fluminense, cidades como São Gonçalo e Niterói, etc. “A gente sempre teve o público do Rio de Janeiro como um dos principais, no top 3: Rio, São Paulo e Porto Alegre”, completou o artista.

E o show do último sábado cumpriu exatamente tudo o que foi prometido pelos músicos: Casa abarrotada, som ‘no talo’, participações mais do que especiais, como Lio, da banda Tuyo, cantando Cada Acidente, e, por fim, um plot twist: Danny Jones e Dougie Poynter, integrantes do McFly, surgiram no palco para cantarem, ao lado de Lucas, o hit All About You.

Fresno ao vivo na Fundição Progresso (Reprodução/Twitter)

Turnê por tempo indeterminado

Como falamos, foram pouco mais de dois anos sem a Fresno subir oficialmente em um palco. De lá para cá, a banda lançou novidades, desde o próprio disco novo, a passar por uma mixtape versátil, chamada Inventário, clipes e outras novidades. Mas preencher a lacuna deixada pela ausência dos shows não é algo fácil, principalmente para uma banda que estava prestes a ganhar o mundo antes do caos causado pela COVID-19.

A Fresno estava em plena turnê do Sua Alegria Foi Cancelada, disco de 2019, anunciada como atração do Lollapalooza Brasil, com malas prontas para fazer shows em Portugal, fora o que poderia acontecer. A expectativa foi jogada ao chão com a chegada da pandemia, mas o novo álbum trouxe consigo uma turnê que, a depender dos integrantes do grupo, não tem data certa para encerrar.

Oficialmente, entre os shows anunciados, o último será no dia 14 de agosto, em Fortaleza, no Ceará. Mas ouvimos dos próprios membros que outras datas devem pipocar na agenda. “A última turnê ficou pela metade, né? Ainda tem muitos pedaços do Brasil em que a gente não foi. Então, até o fim do ano, a gente já vai ter coberto um bom pedaço do país, com um show massa, conseguindo levar algo com qualidade. A gente nem começou, a gente tem que fazer, pelo menos aí, uns cinquentinha (risos)”.

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