Nas últimas semanas, a internet brasileira se rendeu a um modo muito tradicional de se consumir uma história: ouvindo. Como nos tempos do rádio, A Mulher da Casa Abandonada, Podcast de Chico Felliti, da Folha de S. Paulo, colocou os brasileiros, como há muito não se via, ansiosos por um novo episódio de um programa de áudio. A história macabra e surpreendente, apurada durante meses pelo repórter, é a grande sensação do momento. E quando o assunto é som, a gente marca presença.
Contextualizando, caso você não esteja por dentro dos acontecimentos: o podcast conta a história de uma mulher que é procurada pelo FBI e vive em uma mansão ‘em pandarecos’ (como diz Chico incontáveis vezes) em Higienópolis, um dos bairros mais caros de São Paulo. Mari, que na verdade é Margarida Bonetti, manteve durante anos, ao lado do Marido, Renê, a empregada da família em condições análogas à escravidão nos Estados Unidos.
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Em meio a atrocidades cometidas contra a vítima, Mari conseguiu fugir para o Brasil, deixando o marido pagando por todos os crimes sozinho, e se refugiou na mansão que sempre foi de sua família. A casa, caindo aos pedaços, sempre despertou a curiosidade de quem passava, como foi com Chico, que mergulhou na história bizarra e que, em vários momentos, beira o inacreditável.
No intuito de despistar e não correr qualquer tipo de risco, Margarida Bonetti sempre deu as caras na parte externa da casa usando uma pomada branca cobrindo o rosto. O visual meio fantasmagórico, aliado ao estado do imóvel, deram a ela um aspecto de ‘bruxa’, que é como ela sempre foi conhecida pela vizinhança. Para narrar essa história digna de filme de terror, o podcast conta com uma edição de som impecável feita por Luan Alencar.
Seja em áudio, áudio e vídeo, filme, novela, peça publicitária, série ou podcast: uma história contada com dinâmica precisa de um bom sound design, que encorpa a produção de maneira geral. Algumas trilhas acabam marcando tanto que acabam indo na frente da própria obra, muitas vezes.
Os ingredientes desta ‘trama’ citados aqui seguem bem a linha das clássicas histórias de casas abandonadas, onde sempre há algo ou alguém que tem um passado macabro. Para dar vida sonora e deixar os capítulos de AMDCA mais dinâmicos, Luan contou à coluna que o intuito era, desde o início, trazer algo que remetesse aos filmes de terror com casas abandonadas.
A edição de som magistral em A Mulher da Casa Abandonada faz do programa algo que vai além de uma reportagem jornalística especial. O podcast, apesar de tratar de uma história triste e macabra, acaba te envolvendo, e muito disso se deve ao seu sound design, cheio de dinâmica e com trilhas que vão ditando os momentos de suspense, grandes revelações e situações inusitadas.
“A forma como Chico conta a história acaba ditando muito das minhas escolhas na hora da trilha, porque apesar do foco ser uma história muito pesada, o caminho dele até chegar lá passa por momentos menos tensos, então achava que a trilha precisava passear por esses humores”, explicou o editor.
Luan também contou que o que mais consumiu tempo durante a edição foi o processo de buscar as trilhas em bancos de áudio na internet que melhor se encaixavam na história. Aos poucos, ele foi criando catálogos e dividindo os temas de acordo com os seus respectivos ‘moods’, como ‘Investigação’, ‘Drama’, ‘Tensão’ e por aí vai.
Ao longo dos episódios, você vai se habituando com as trilhas, que vão se repetindo entre eles, como a usada na abertura de cada capítulo da história. A melodia é bem marcante e ajuda a criar a identidade do programa. Além de A Mulher da Casa Abandonada, Luan Alencar já fez outras séries para a Folha. Ele ainda edita e apresenta o Budejo podcast, e trabalha como editor de outros programas na produtora Maremoto.
Vale lembrar, também, que todos os episódios são disponibilizados pela Folha no Youtube, além de todos os principais players. Para dar mais acessibilidade, A Mulher da Casa Abandonada também está disponível em texto no site da Folha.