vai fazer falta

7 motivos que explicam porque Jô Soares vai fazer muita falta

Sete motivos para sentirmos falta do maior apresentador de talk shows do Brasil e um dos maiores humoristas e dramaturgos de sua geração.

Publicado em 05/08/2022
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O icônico e internacionalmente reconhecido, inclusive aqui em Portugal, Jô Soares (nascido José Eugênio Soares em 16 de janeiro de 1938, no Rio de Janeiro) infelizmente nos deixou na data de hoje, 5 de agosto de 2022.

Com inúmeras participações marcantes em programas como a “Praça da Alegria”, a “Família Trapo” e seis anos no ar, de 1981 a 1987, com o seu próprio humorístico, o “Viva o Gordo”, Jô decidiu nos encantar com sua habilidade para entrevistar, sendo pioneiro no formato de talk shows no Brasil, com o “Jô Soares 11 e meia” no SBT (que nunca começava no horário combinado) e em seguida comandando o “Programa do Jô” na Globo por 16 anos, até que se afastou da televisão em 2016.

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Após um ano sabático, nos últimos 5 anos se dedicou ao teatro e a literatura. O apresentador, um dos mais longevos de todos, ficou na TV durante seis décadas e declarou em entrevistas que podia se dar ao luxo de seguir fora da telinha. Um artista completo dotado de grande inteligência, humor e habilidades diversas como ator, apresentador, entrevistador, roteirista e tradutor. E hoje, mais do que nunca, faz-nos falta. E muita.

Abaixo listo sete motivos para sentirmos falta do maior apresentador de talk shows do Brasil e um dos maiores humoristas e dramaturgos de sua geração.

1 – Irreverência

Em sua carreira como roteirista e ator, Jô tinha como marca registrada a irreverência e a inteligência em suas sátiras, que sem medo usavam o humor como ponto de partida para a crítica social e política, cumprindo mais do que o papel de levar apenas entretenimento despropositado para as massas.

Em 1981, fez seu mais célebre programa humorístico, o “Viva o Gordo”, que deu origem ao espetáculo de teatro “Viva o Gordo, Abaixo o Regime”, uma sátira à Ditadura Militar vigente no país desde 1964.

Jô inclusive já abordava, naquela época, temáticas LGBT e fora do establishment. Em 1982, apresentava em horário nobre o seu personagem “Capitão Gay”, em plena época de censura e ditadura militar, que durou até 1985.

Jô Soares como “Capitão Gay” em Viva o Gordo (Reprodução / Rede Globo)

2 – Amante da Sétima Arte

Cinéfilo inveterado, Jô Soares participou de 25 filmes, tanto de ficção quanto documentários, interpretando personagens sérios, humorísticos ou fazendo ele próprio.

3- Escrita ácida

Jô Soares também ficou conhecido pelo seu estilo único e sua escrita ácida, através de seus textos em jornais como “O Globo” e “Folha de S.Paulo”, assim como nas revistas “Manchete” e “Veja”.

Seu talento para a escrita também lhe rendeu, além de um lugar na Academia Brasileira de Letras, como imortal, alguns sucessos de vendas na literatura. Jô escreveu vários livros, sendo uma coletânea de crônicas, publicadas originalmente em “O Globo”, “O Astronauta Sem Regime”, além de quatro romances: “O Xangô de Baker Street”, “O Homem que Matou Getúlio Vargas”, “Assassinatos na Academia Brasileira de Letras” e “As Esganadas”, e uma autobiografia em dois volumes, “O Livro de Jô – Uma Autobiografia Desautorizada”.

4 – Coragem

Mesmo tendo se consagrado como humorista de sucesso na Rede Globo, em especial com o “Viva o Gordo”, Jô Soares fez um pedido inusitado a Silvio Santos para trocar a Vênus Platinada pelo SBT: quero apresentar meu programa de entrevistas.

Na época, em 1987, os talk shows eram novidade no Brasil. O formato já consagrado nos Estados Unidos, por figurões como Larry King e David Letterman, era uma aposta ousada. Afinal, trocar o certo pelo duvidoso? Mas deu muito certo. E por sua coragem, em outubro de 1987, Jô Soares tornou-se o artista mais bem pago da televisão brasileira, estampando manchetes por causa dessa transação milionária: deixou a Globo, onde estava desde o início dos anos 1970 e ir para o SBT. A saída de Jô, inclusive, forçou a Globo a criar uma nova opção para a faixa, surgindo a Tela Quente, para exibição de filmes inéditos.

Jô Soares em Viva o Gordo (Reprodução / Rede Globo)

5 – Inteligência

O Jô Soares foi um homem inteligentíssimo. Poliglota (Jô falava fluentemente seis idiomas), escritor, apresentador de vários shows de televisão, comediante, ator, diretor teatral, enfim. Há poucas coisas no mundo dos espetáculos e entretenimento que Jô Soares não tenha abraçado com inteligência e senso de humor ímpar.

Segundo algumas publicações na imprensa, o QI de Jô Soares seria de 156 (em uma escala até 200), o que o situaria na faixa equivalente a gênio, bastante acima da média.

Contudo, essa mesma inteligência também lhe rendia algumas críticas como apresentador de talk show, em especial por seu protagonismo: às vezes aparecia mais que os entrevistados. Melhor para os telespectadores. Jô era, por diversas vezes, mais interessante que muitos de seus convidados mas, sabia com maestria usar toda a sua cultura e vivência para tornar qualquer entrevista mais interessante, ainda que tivesse que protagonizar em alguns momentos.

6- Forrest Gump brasileiro

Se você reparar bem, vai ver que assim como a história de Forrest Gump, interpretado por Tom Hanks no cinema, Jô Soares esteve em praticamente todos os acontecimentos marcantes da teledramaturgia nacional. Só que, no caso de Jô, não restam dúvidas disso.

Em sua autobiografia, Jô narra fatos estrelados por personagens da cena internacional, com a coincidência dele mesmo estar nos momentos decisivos da história da cultura, sobretudo o teatro e a televisão. E até da política: presenciou, por exemplo, uma etapa decisiva do golpe que tirou o então presidente da República, João Goulart, e implantou a ditadura militar a partir de 1º de abril de 1964. E foi confidente de um caso do mesmo Jango (que, dizem, disputava mulher até com o jogador Garrincha).

7- Bem Amado

Apesar de sua personalidade forte e de já ter criticado abertamente diversas vezes o chamado “politicamente correto”, Jô Soares era muito respeitado e querido no meio das celebridades. Autêntico, nunca pareceu estar sempre em busca de agradar ninguém, mas mesmo assim, hoje no dia de sua morte, inúmeros famosos lembram com carinho da sua trajetória e partilham com milhões de pessoas, no Brasil e ao redor do mundo lusófono, a dor de sua perda.

Motivo bônus: tocar bongô

Nenhum apresentador na TV brasileira toca bongô ao vivo. Somente o Jô Soares nos surpreendia assim. Ele tanto interrompia a sua banda, o Sexteto, que o obedecia infalivelmente o seu tradicional gesto com as mãos como a interjeição “wow” que fazia, como surgia acompanhando os músicos e mostrando seus dotes na percussão e outros instrumentos.

Jô Soares: master of bongo (Reprodução / Rede Globo)

Jô destilava uma cultura musical e geral que poucos indivíduos alcançam em vida e nos presenteava com suas icônicas participações tocando seu bongô, além de memoráveis entrevistas com ícones da música nacional e internacional, que fugiam do óbvio e acrescentavam cultura às nossas vidas em uma era onde no Brasil o acesso a tudo que vinha de fora era tão difícil.

Descanse em paz, Jô Soares.

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