O recente episódio em que o candidato à presidência dos EUA, Donald Trump, levou um tiro na orelha durante um comício reacendeu debates sobre o discurso de ódio e a polarização política. Para entender melhor os aspectos psicológicos por trás desses comportamentos extremos, entrevistamos Romanni Souza, graduado em Psicologia pelo Unipam, pós-graduado em Neurociência e treinador oficial do Instituto Romanni.
“Em uma análise psicológica do caso do Donald Trump e do que leva as pessoas a fazerem comentários absurdos, como ‘deveria ter acertado a cabeça’ ou ‘pena que errou’. É curioso notar que, geralmente, quem faz esses comentários são pessoas contra movimentos de direita. Isso não significa que estou defendendo Trump ou a direita, mas sou contra assassinatos e a ideia de que matar alguém por discordar politicamente é justificável”, afirma Romanni Souza.
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Esse episódio não é isolado na história política dos EUA. “Já houveram 16 tentativas de homicídio contra candidatos presidenciais. A cegueira ideológica leva a criação de teorias conspiratórias e ao apoio a atos violentos”, explica Souza. A resposta violenta a figuras políticas não se restringe a um espectro ideológico específico. “Pesquisas mostram que tanto a direita quanto a esquerda criam teorias da conspiração para justificar suas crenças, o que reflete uma distorção da realidade com base em suas bolhas ideológicas”, destaca o psicólogo.
A repercussão nas redes sociais também merece atenção. Políticos e influenciadores, ao invés de condenarem o ato de violência, frequentemente fazem chacota e deboche, incentivando ainda mais a divisão. “Um exemplo absurdo foi o Janonis postando no Twitter, debochando do ocorrido com Trump. A pessoa que se diz contra a violência, às vezes é a mesma que incentiva postagens de fake news ou sugere que a morte de quem pensa diferente é justificável”, critica Souza.
Esse comportamento contraditório revela um problema profundo na sociedade contemporânea: a desumanização do adversário político. “Defender um ponto de vista é legítimo, mas quando isso se transforma em justificar a eliminação do outro, perdemos a humanidade”, conclui Romanni Souza.
O ataque a Donald Trump durante um comício não é apenas um episódio de violência política, mas um sintoma de uma sociedade cada vez mais polarizada e dominada pelo discurso de ódio. É essencial que, independentemente da orientação política, haja uma condenação unânime a qualquer forma de violência. Só assim será possível reconstruir um ambiente de diálogo e respeito mútuo.